A crónica de José Manuel do Santos no Expresso de Sábado! Magnífico. Infelizmente o texto narra a sua experiência com o luto. Para ele continua a ir toda a minha simpatia...
"Luto
Agora, há um antes e um depois daquele dia. Mas, quando menos espera ou prevê, o tempo deixa de ser linear e torna-se circular. De repente, tudo regressa àquele momento, àquele corpo, àquele rosto parado. Talvez por isso, poucos dias após aquele dia, ele foi reler uma passagem de "Em Busca do Tempo Perdido": aquela em que, contando a morte da avó, Marcel narra verdadeiramente a morte da mãe de Proust. Diz como o seu rosto rejuvenesceu na hora em que a vida se ausentou dele. Dessas palavras tão frias como a morte que descrevem, ele fixa uma frase, a partir da qual começa a mudar a rota da sua dor: "A vida, ao retirar-se, acabava de levar as desilusões da vida. Parecia haver um sorriso poisado nos lábios da minha avó. Naquele leito fúnebre, a morte, como o escultor da Idade Média, deitara-a com a aparência de uma menina." Depois de assim ter lido, regressa ao momento em que chegou ao hospital e lhe deram a notícia. E volta a ver a mãe inclinada para o lado direito (parecia que dormia) e o seu rosto apagado pela morte. Mas não estava mais jovem do que fora, porque antes não envelhecera muito. Nem as rugas lhe desapareceram, porque nunca as tivera. Talvez por isso, ele pensara sempre que a mãe era eterna.
Agora, todos os dias olha as fotografias. Tenta adivinhar as situações em que foram tiradas, procura despertar o instante ali fixado. Vê-a, ainda muito jovem, ao lado das amigas, numa praia, com os fatos-de-banho daquele tempo coberto. Noutra, está a passear, numa tarde em que a luz não consegue fugir dos olhos dela e do namorado. A seguir, demora-se a olhar as imagens do casamento - sabe que aquelas luvas brancas estão guardadas há 55 anos numa gaveta. E ouve a voz do pai a chamar: "Luísa!" Nesta fotografia, mal se reconhece: é um bebé de poucos meses, a olhar para ela, e ela a olhar para ele - e os tempos da vida estão ali todos contidos. Há uma em que está de mão dada com a irmã, entre os pais. Outras, não consegue afastá-las do olhar, assim quisesse agarrar o que lhe foge. E ouve a voz da mãe a dizer: "Fico sempre mal nas fotografias. Não gosto nada de me ver!" Finalmente, vê a sua última imagem, sentada no sofá onde costumava estar. Depois de a ver, dirige-se, sem pensar nisso, ao sofá e senta-se no braço, como quando lhe fazia festas. Agora, em vez dela, há ali a partida, o vazio, a ausência - e nos seus olhos surge um brilho triste e húmido.
Este luto tão terrível atirou-o contra si mesmo. Para ganhar alguma distância, pensa-se como se fosse outro ("Je est un autre"), um terceiro - 'ele' em vez de 'eu'. Relê, agora com proximidade, "Luto e Melancolia", o grande texto de Freud que um dia tinha lido com afastamento. Relê-o e parece que está à beira de um buraco. Depois, repara que, no monte de livros que tem para ler, está o "Journal de Deuil". Esse Diário permaneceu inédito durante anos e apenas foi publicado recentemente. Roland Barthes começou a escrevê-lo no dia seguinte ao da morte da mãe e foi arrastado por ela durante anos. Há poucos livros tão claustrofóbicos como este, tão insuportáveis, tão funestos. Somos cercados por um amor fechado, por uma dor que não desiste, que não tem intervalo, que não se solta. Ali há um veneno agudo, um desgosto que morde como um cão cruel.
Ele cola a sua dor à dor de Barthes e atravessa pela mão dele os longos dias do luto. Lê o Diário: primeiro, rapidamente; depois, lentamente, confirmando o que sentiu e pressentindo o que sentirá. Lê o Diário, assim como aquele a quem foi diagnosticada uma doença grave passa a ler tudo o que sobre essa doença consegue encontrar. Lê o Diário e fica suspenso daquela inteligência que quer analisar os signos da sua dor e os sintomas dos seus sentimentos. É subjugado por aquela vontade que insiste e prossegue mas que, às vezes, se desorienta, tal a borboleta que voa para a luz e fica cega, desnorteada, desmedida. Lê no Diário: "Sei agora que o meu luto será caótico." Prossegue: "Dia horrível. Cada vez mais infeliz. Choro." Continua: "A emoção passa, a tristeza fica." Lê mais: "Não dizer Luto. É psicanalítico de mais. Eu não estou de luto. Estou triste." Mas nos dias seguintes volta a falar de luto: "Luto: mal-estar, situação sem chantagem possível". Acorda a meio da noite para ler: "Eu não tenho desejo, mas necessidade de solidão." Lê mais: "Solidão - não ter ninguém em casa a quem poder dizer: Eu volto a tal hora..." Agora, fecha o livro, olha o vazio e regressa de novo, obsessivamente, àquele momento, àquele corpo, àquele rosto parado. Adormece. Pela primeira vez, depois da morte dela, sonha com a mãe."
Assim vai o mundo...
quinta-feira, julho 30, 2009
quarta-feira, julho 29, 2009
O mundo dos jornais...
Quartas é dia de crónica de Luis Fernando Veríssimo no Expresso...
"Reféns da escrita
No seu livro "Lessons of the Masters", George Steiner lembra que nem Sócrates nem Jesus Cristo, que ele chama de as duas figuras 'pivotais' da nossa civilização (de pivôs, como no basquete ou nos crimes passionais), deixou qualquer coisa escrita. São mestres cujas lições sobreviveram no relato de outros: Platão no caso de Sócrates e os evangelistas no caso de Jesus. Não existe nem evidência de que os dois soubessem escrever. A única, enigmática referência da Bíblia a um Cristo escritor está em João 8: 1-8, quando, indagado pelos fariseus sobre o destino da mulher flagrada em adultério, Jesus finge que não ouve e escreve algo no chão com o dedo - ninguém sabe o quê ou em que língua. Existe até uma velha piada, que Steiner cita, sobre um académico moderno comentando o currículo de Jesus: "Óptimo professor, mas não publicou."
O legado literário de Sócrates, via Platão, é em forma de mitos, o de Jesus em forma de parábolas. Dois meios de organização e transmissão oral de memória que a escrita diminui, transformando narrativa aberta em cânone e lição em dogma. Nos diálogos de Platão, o pensamento vivo de Sócrates já se coagulou em filosofia; nos textos bíblicos, a verdade poética de Cristo se petrificou em verdades sagradas, irrecorríveis. Mas o maior defeito da escrita seria o de ter sabotado a memória como guia, roubando a sua função civilizatória de 'mãe das musas'.
Durante muito tempo, os gregos desconfiaram da palavra escrita como a linguagem cifrada de um mundo obscuro que só levava à danação, diferente do que se aprende 'de cor', ou com a linguagem do coração. Homero, o inventor da literatura ocidental, era maior porque também nunca escrevera nada e suas estrofes inaugurais tinham sido transmitidas oralmente, de coração em coração. Mas isto pode ser outro mito. 'Omeros' em grego, descobri agora, quer dizer refém. Homero, como o primeiro escritor do nosso mundo, seria o primeiro prisioneiro da maldita palavra grafada.
Meu convívio forçado com o computador, sua conveniência, seus mistérios e seus perigos me faz pensar muito sobre a precariedade da palavra. Pois um pré-electrónico como eu está sempre na iminência de ver textos inteiros desaparecerem sem deixar vestígio na tela. O computador nos transforma todos em reféns sem fuga possível da palavra e pode acabar, num segundo, com um dia inteiro de trabalho da pobre musa dos cronistas em trânsito. Que, como se sabe, se chama Ritinha, é manicura e faz trabalho de musa como bico. Ao mesmo tempo, nos transformou na primeira geração na História que tem toda a memória do mundo ao alcance dos seus dedos.
O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá. É melhor acabar aqui antes que este texto desapareça.
Inigualável
Da série "Poesia Numa Hora Dessas?!"
Ah, como fazes bem
a este coração que é pouco
e a esta dor que é sina.
Nada se iguala a ti,
diva dos meus sonhos,
alento da minha vida.
Salvo, talvez, a aspirina."
Assim vai o mundo...
"Reféns da escrita
No seu livro "Lessons of the Masters", George Steiner lembra que nem Sócrates nem Jesus Cristo, que ele chama de as duas figuras 'pivotais' da nossa civilização (de pivôs, como no basquete ou nos crimes passionais), deixou qualquer coisa escrita. São mestres cujas lições sobreviveram no relato de outros: Platão no caso de Sócrates e os evangelistas no caso de Jesus. Não existe nem evidência de que os dois soubessem escrever. A única, enigmática referência da Bíblia a um Cristo escritor está em João 8: 1-8, quando, indagado pelos fariseus sobre o destino da mulher flagrada em adultério, Jesus finge que não ouve e escreve algo no chão com o dedo - ninguém sabe o quê ou em que língua. Existe até uma velha piada, que Steiner cita, sobre um académico moderno comentando o currículo de Jesus: "Óptimo professor, mas não publicou."
O legado literário de Sócrates, via Platão, é em forma de mitos, o de Jesus em forma de parábolas. Dois meios de organização e transmissão oral de memória que a escrita diminui, transformando narrativa aberta em cânone e lição em dogma. Nos diálogos de Platão, o pensamento vivo de Sócrates já se coagulou em filosofia; nos textos bíblicos, a verdade poética de Cristo se petrificou em verdades sagradas, irrecorríveis. Mas o maior defeito da escrita seria o de ter sabotado a memória como guia, roubando a sua função civilizatória de 'mãe das musas'.
Durante muito tempo, os gregos desconfiaram da palavra escrita como a linguagem cifrada de um mundo obscuro que só levava à danação, diferente do que se aprende 'de cor', ou com a linguagem do coração. Homero, o inventor da literatura ocidental, era maior porque também nunca escrevera nada e suas estrofes inaugurais tinham sido transmitidas oralmente, de coração em coração. Mas isto pode ser outro mito. 'Omeros' em grego, descobri agora, quer dizer refém. Homero, como o primeiro escritor do nosso mundo, seria o primeiro prisioneiro da maldita palavra grafada.
Meu convívio forçado com o computador, sua conveniência, seus mistérios e seus perigos me faz pensar muito sobre a precariedade da palavra. Pois um pré-electrónico como eu está sempre na iminência de ver textos inteiros desaparecerem sem deixar vestígio na tela. O computador nos transforma todos em reféns sem fuga possível da palavra e pode acabar, num segundo, com um dia inteiro de trabalho da pobre musa dos cronistas em trânsito. Que, como se sabe, se chama Ritinha, é manicura e faz trabalho de musa como bico. Ao mesmo tempo, nos transformou na primeira geração na História que tem toda a memória do mundo ao alcance dos seus dedos.
O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá. É melhor acabar aqui antes que este texto desapareça.
Inigualável
Da série "Poesia Numa Hora Dessas?!"
Ah, como fazes bem
a este coração que é pouco
e a esta dor que é sina.
Nada se iguala a ti,
diva dos meus sonhos,
alento da minha vida.
Salvo, talvez, a aspirina."
Assim vai o mundo...
terça-feira, julho 28, 2009
O mundo dos filmes...
Al Pacino não sabe representar mal! Rene Russo também é sempre muito segura. Matthew McConaughey surpreende com uma bela interpretação. Baseado em factos reais "2 for the Money" é um bom filme...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
segunda-feira, julho 27, 2009
O mundo da música...
Mesmo não olhando à fantástica história de vida de Melody Gardot (teve um terrível acidente que quase a paralisou), a voz dela é maravilhosa! Apreciem...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sábado, julho 25, 2009
O mundo do jornalismo...
Então é assim, nada me move contra o Benfica! Sou do FCP, e desde que não me pisem os calos, respeito todos os outros clubes. Desde há uns tempos que se notou que a televisão generalista do Benfica tinha deixado de ser a TVI para ser a SIC. Ainda mais agora que se falou numa possivel candidatura de José Eduardo Moniz (continuo a afirmar como portista que estava mais preocupado se ele ganhasse do que Vieira) e os jornalistas da TVI foram impedidos de entrar na conferencia de imprensa de Ramires. Ora num canal generalista, eu tenho de apelidar isto de mau jornalismo. Mas ainda há pior. Na apresentação do Benfica, transmitida pela SIC, tivemos um episódio lamentável e de tão mau gosto que até custa. Jorge Baptista (de quem não gosto há vários anos desde que disse que Vitor Baia nunca foi um bom guarda-redes mas sim um produto de marketing) mostra não conhecer um jogador muito conhecido e acima de tudo, extra futebol, faz comentários inacreditáveis sobre João Malheiro (até digo que não gosto nada dele) e sobre algumas adeptas do Benfica que quiseram abrilhantar a festa. É inenarrável.. Tenho muita pena que esse senhor se intitule jornalista e que ainda possa dizer tamanhas bacoradas! Mas façam o favor de ouvir...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sexta-feira, julho 24, 2009
O mundo das séries...
As séries que ando a seguir...
Um assassino que trabalha para a polícia... Os dilemas morais de quem tem de matar, mas só mata quem comete crimes... Fantástica...
Eureka é um lugar louco cheio de cientistas... O único que não é um crânio é o novo delegado de polícia... Seguimos as estórias dele...
Um Psiquiatra com tantos problemas como os seus pacientes.. Hank Azaria num grande papel...
Um Psiquiatra que usa as tácticas mais sui generis para curar os seus pacientes... A solução está sempre dentro de nós mesmos...
Assim vai o mundo...
Um assassino que trabalha para a polícia... Os dilemas morais de quem tem de matar, mas só mata quem comete crimes... Fantástica...
Eureka é um lugar louco cheio de cientistas... O único que não é um crânio é o novo delegado de polícia... Seguimos as estórias dele...
Um Psiquiatra com tantos problemas como os seus pacientes.. Hank Azaria num grande papel...
Um Psiquiatra que usa as tácticas mais sui generis para curar os seus pacientes... A solução está sempre dentro de nós mesmos...
Assim vai o mundo...
quinta-feira, julho 23, 2009
O mundo dos filmes...
Nunca tinha visto este Sideways! Um filme calminho com um belo argumento e momentos de humor. Um filme onde Paul Giamatti mostra o belissimo actor que é...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
quarta-feira, julho 22, 2009
O mundo dos jornais...
Quarta-feira, passa a ser dia da crónica de Luis Fernando Veríssimo no Expresso...
O filho do assobiador
No primeiro dia de aulas, cada aluno tinha de se levantar, em ordem alfabética, e dizer quem era. Como se chamava, se tinha irmãos, quem eram o seu pai e a sua mãe e o que o seu pai fazia. Naquele tempo, era raro a mãe fazer alguma coisa além de cuidar da casa. Só quem tinha profissão era o pai.
E o garoto disse a profissão do pai:
- Assobiador.
Foi uma gargalhada geral. A professora também riu. Depois disse:
- Não. Qual é a profissão do seu pai?
- Assobiador.
Mais gargalhadas. Foi quando o garoto descobriu que era diferente. Que o seu pai era diferente. Tinha uma profissão que nenhum outro pai tinha. Assobiador... Aquilo era profissão? A partir daquele dia, o Ademar, cujo pai era fiscal da Receita, passara a chamá-lo de Fiu Fiu.
Os pais dos outros tinham profissões normais. Nenhuma risível. E ele mesmo começou a desconfiar: o pai ganhava mesmo a vida como assobiador? Sabia que ele fazia shows, que se apresentava em programas de auditório do rádio, que às vezes ficava semanas fora de casa em excursões artísticas... Mas ganharia o suficiente para sustentar a família com aquilo, só com aquilo? Assobiando "Granada" e "Fascinação" e imitando passarinho?
O garoto perguntou ao pai se aquela era a sua única profissão. Assobiador. O pai disse que era. Que já trabalhara no comércio, mas como era um bom assobiador desde criança resolvera investir no seu dom. Não ganhava muito, mas dava, sim, para sustentar a família. Porquê?
- É que na escola riram de mim quando eu disse o que o senhor fazia.
O pai sorriu. Disse:
- Não é vergonha nenhuma ser filho de assobiador.
Mas, quando teve de responder de novo o que é que o seu pai fazia, o garoto disse:
- Médico.
Em outra ocasião:
- Advogado.
E começou a inventar profissões para o pai, variando de acordo com o interlocutor. Engenheiro. Contador. Dono de revendedora... Aos 18 anos, antes de levar a sua primeira namorada séria para conhecer os pais, ele avisou em casa:
- Papai, para todos os efeitos, o senhor é cirurgião dentista.
E quando, durante a visita da namorada, o pai perguntou se ela não queria ouvir a sua imitação de canário, ele pulou da cadeira e disse:
"Não!"
O pai participou de um programa de TV em cadeia nacional e foi uma sensação assobiando o "Bolero" de Ravel com acompanhamento de grande orquestra. Dias depois, ele encontrou na rua o seu ex-colega de escola Ademar, que exclamou:
- Fiu Fiu! Aquele na televisão não era o seu pai? Genial, cara! Genial!
E depois, como que lamentando a sua vida sem graça, disse:
- Pô, cara. Só posso imaginar como era ser filho de um assobiador, cara. Ter um assobiador em casa, um artista daqueles...
E então ele se lembrou de como, com 4 ou 5 anos, ficava ouvindo o pai assobiar. Sem saber que aquele era um pai diferente dos outros. Apenas maravilhado.
Assim vai o mundo...
O filho do assobiador
No primeiro dia de aulas, cada aluno tinha de se levantar, em ordem alfabética, e dizer quem era. Como se chamava, se tinha irmãos, quem eram o seu pai e a sua mãe e o que o seu pai fazia. Naquele tempo, era raro a mãe fazer alguma coisa além de cuidar da casa. Só quem tinha profissão era o pai.
E o garoto disse a profissão do pai:
- Assobiador.
Foi uma gargalhada geral. A professora também riu. Depois disse:
- Não. Qual é a profissão do seu pai?
- Assobiador.
Mais gargalhadas. Foi quando o garoto descobriu que era diferente. Que o seu pai era diferente. Tinha uma profissão que nenhum outro pai tinha. Assobiador... Aquilo era profissão? A partir daquele dia, o Ademar, cujo pai era fiscal da Receita, passara a chamá-lo de Fiu Fiu.
Os pais dos outros tinham profissões normais. Nenhuma risível. E ele mesmo começou a desconfiar: o pai ganhava mesmo a vida como assobiador? Sabia que ele fazia shows, que se apresentava em programas de auditório do rádio, que às vezes ficava semanas fora de casa em excursões artísticas... Mas ganharia o suficiente para sustentar a família com aquilo, só com aquilo? Assobiando "Granada" e "Fascinação" e imitando passarinho?
O garoto perguntou ao pai se aquela era a sua única profissão. Assobiador. O pai disse que era. Que já trabalhara no comércio, mas como era um bom assobiador desde criança resolvera investir no seu dom. Não ganhava muito, mas dava, sim, para sustentar a família. Porquê?
- É que na escola riram de mim quando eu disse o que o senhor fazia.
O pai sorriu. Disse:
- Não é vergonha nenhuma ser filho de assobiador.
Mas, quando teve de responder de novo o que é que o seu pai fazia, o garoto disse:
- Médico.
Em outra ocasião:
- Advogado.
E começou a inventar profissões para o pai, variando de acordo com o interlocutor. Engenheiro. Contador. Dono de revendedora... Aos 18 anos, antes de levar a sua primeira namorada séria para conhecer os pais, ele avisou em casa:
- Papai, para todos os efeitos, o senhor é cirurgião dentista.
E quando, durante a visita da namorada, o pai perguntou se ela não queria ouvir a sua imitação de canário, ele pulou da cadeira e disse:
"Não!"
O pai participou de um programa de TV em cadeia nacional e foi uma sensação assobiando o "Bolero" de Ravel com acompanhamento de grande orquestra. Dias depois, ele encontrou na rua o seu ex-colega de escola Ademar, que exclamou:
- Fiu Fiu! Aquele na televisão não era o seu pai? Genial, cara! Genial!
E depois, como que lamentando a sua vida sem graça, disse:
- Pô, cara. Só posso imaginar como era ser filho de um assobiador, cara. Ter um assobiador em casa, um artista daqueles...
E então ele se lembrou de como, com 4 ou 5 anos, ficava ouvindo o pai assobiar. Sem saber que aquele era um pai diferente dos outros. Apenas maravilhado.
Assim vai o mundo...
terça-feira, julho 21, 2009
O Mundo...
Estava a dar em doido depois do meu pc estar para arranjar durante cinco dias! Tanta coisa para dizer. Fica para amanhã...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
quarta-feira, julho 15, 2009
O mundo dos filmes...
Last Word é um filme simples! O argumento é diferente porque a personagem é diferente. Deixo aqui uma pequena sinopse e o trailer...
An odd-but-gifted poet, Evan Merck (Wes Bentley, American Beauty) makes his living writing suicide notes for the soon-to-be departed. So when he meets Charlotte (Winona Ryder, Girl, Interrupted), the free-spirited sister of his latest client, Evan has no choice but to lie about his relationship to her late, lamented brother. Curiously attracted by his evasive charms, a smitten Charlotte begins her pursuit, forcing Evan to juggle an amorous new girlfriend, a sarcastic new client (Ray Romano, Everybody Loves Raymond) and an ever-increasing mountain of lies in this dark romantic comedy about a quirky young man who can't tell right from wrong.
Assim vai o mundo...
An odd-but-gifted poet, Evan Merck (Wes Bentley, American Beauty) makes his living writing suicide notes for the soon-to-be departed. So when he meets Charlotte (Winona Ryder, Girl, Interrupted), the free-spirited sister of his latest client, Evan has no choice but to lie about his relationship to her late, lamented brother. Curiously attracted by his evasive charms, a smitten Charlotte begins her pursuit, forcing Evan to juggle an amorous new girlfriend, a sarcastic new client (Ray Romano, Everybody Loves Raymond) and an ever-increasing mountain of lies in this dark romantic comedy about a quirky young man who can't tell right from wrong.
Assim vai o mundo...
segunda-feira, julho 13, 2009
O mundo da TV...
O episódio de ontem de "Os Contemporaneos" foi fabuloso! Foram sketches e sketches de chorar a rir...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sábado, julho 11, 2009
O mundo do humor...
Eu gosto muito do projecto "Amália Hoje", mas os Contemporâneos são geniais...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sexta-feira, julho 10, 2009
O mundo dos filmes...
Vamos por partes! Estilisticamente Second Life é um bom filme. Os actores são todos competentes (se bem que em termos de interpretação apenas Piotr Adamczyk se destaca), os figurantes são conhecidos (Figo, Malato, Luis Filipe Borges, Rita Andrade, etc), a fotografia é boa, a música composta por Sasseti é magnifica. Mas peca longamente numa coisa: o argumento é terrivel! É uma salgalhada sem norte de onde se salva alguns bons aforismos. Quem me segue sabe que é raro eu dizer mal de um filme. E eu até recomendo que se veja, mas o fio do argumento dá tantas voltas que se embrulha...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
quarta-feira, julho 08, 2009
terça-feira, julho 07, 2009
A verdadeira instituição literária Ana mostrou-me estes vídeos! Cada vez mais gosto do Lobo Antunes. Acho que ele anda a descobrir a humanidade dentro dele! Aqui o vemos na Feira de Livros de Paraty...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
segunda-feira, julho 06, 2009
O mundo dos filmes...
Mais um filminho... Uma mistura entre o K-Pax (onde Kevin Spacey era um extraterrestre) e Um Pai à Maneira (onde Adam Sandler tinha dificuldade em ser pai), este Martian Child é um filme engraçado, sobretudo porque o miúdo é super expressivo. Um filme para se ver numa tardinha feel good!
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
domingo, julho 05, 2009
O mundo dos filmes...
Depois do choque do 11 de Setembro, a ira contra os taliban, o desastre da invasão ao Iraque, os EUA começaram a deparar-se com o drama dos soldados mortos. Este filme mostra-nos a chegada de um desses soldados ao território americano e o acompanhamento por um oficial. Kevin Bacon faz um trabalho notável ao representar o pesar e honra com que é feito esse serviço de acompanhamento!
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sexta-feira, julho 03, 2009
O mundo da bola...
Não é muito usual falar de futebol mas este senhor merece! Lucho Gonzalez despede-se do meu clube e dos relvados portugueses e deixará saudade. Um senhor a jogar à bola. Não é por acaso que chegou a capitão em pouco tempo. Porque instilava liderança. Terei saudades, porque os bons fazem sempre falta...
quinta-feira, julho 02, 2009
O mundo da política...
Estava eu tranquilo a assistir ao Debate da Nação do Parlamento, quando em directo vejo este gesto! Não é a gravidade do gesto cá fora. É o facto de ser feito por um ministro no órgão representativo dos portugueses. É por causa disto que acho que nas próximas legislativas se devia votar em branco ou nos partidos mais pequenos, para ver se vão para lá de facto os melhores representantes...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
O mundo dos filmes..
Não é um filme fácil! "Felon" fala da violência nas prisões americanas. Uma interpretação muito forte do sempre esquecido Val Kilmer. A ver, mas não é fácil...
Smokin Aces é uma parada de estrelas disfarçada de policial! Mas, vá lá, o argumento está esgraçado e entretém...
Assim vai o mundo...
Smokin Aces é uma parada de estrelas disfarçada de policial! Mas, vá lá, o argumento está esgraçado e entretém...
Assim vai o mundo...
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