É a história de uma prisão que abriu em 1928! É a história de uma prisão que em 1992 assistiu um massacre que provocou mais uma centena de mortos! É a história de uma prisão que teve o seu fim em 2002! É a história do Carandiru...
Devo confessar a minha ignorância: eu não conhecia nada sobre o Carandiru! Lembro-me vagamente de ter ouvido falar da sua implosão há três anos. Assim, parti para o filme de Hector Babenco, baseado no livro verídico de Adruzio Varella, com a cabeça limpa de preconceitos...
O filme está muito bem construído porque mostra o que muitas vezes não é feito em filmes de prisões... A perspectiva social e psicológica de cada um dos presos ajuda-nos a entrar num universo singular que toda uma massa que convive conjuntamente. Nem todos os presos são pessoas violentas ou repulsivas! Ao tomar contacto co algumas estórias pensamos se não reagiríamos da mesma forma num mesmo contexto. Obviamente que não defendo a violência mas não podemos nunca saber quais os instintos mais primários do ser humano quando confrontado com uma situação limite...
Ao longo do filme vamos tomando contacto com várias personagens que apesar de nos parecerem agressivos, levam uma vida regrado e até respeitadora... Obviamente, nem tudo são rosas e a droga ou Sida abundam neste local propiciando comportamentos de risco! A perspectiva que nos narra a história é a de um médico, Adruzio Varella, que para além de tentar garantir alguns cuidados médicos, é também uma espécie de padre-confessor a quem os presos contam o seu crime (quase sempre a seu favor). Damos por nós a entender algumas das histórias e a nutrir simpatia por essas personagens... O problema é que a cadeia foi feita para 800 presos e em 1992 estavam lá 8000! Esta sobrelotação provoca sempre maior temor e violência pois é certo que a multidão tem reacções que o ser humano isolado não sonha...
O resultado e desfecho deste filme é o já citado massacre de 1992, em que um motim para melhores condições acaba com uma intervenção brutal da Polícia de Choque brasileira que causou a morte de mais de 100 presos... A violência indiscriminada da polícia faz-nos pensar até que ponto esta seria necessária, uma vez que os presos não tinham reféns e até ja tinham deposto as armas! Desta vez temos a perspectiva dos reclusos e não da polícia...
A sobrelotação das prisões não é um problema brasileiro, aliás o nosso país possui esse mesmo problema, e ano após ano, a Amnistia Internacional declara no seu Relatório que nas prisões portuguesas as condições são degradantes... Eu não sou apologista da pena de morte, mas sim de prisões perpétuas, já que considera que a falta de liberdade é muito mais penosa que a morte imediata, mas defendo também que haja condições para os presos! Afinal são seres humanos...
Uma última nota para um pequeno pormenor... No filme é-nos mostrado que nas prisões brasileiras mais facilmente se perdoa a um homicida que a um violador de crianças! Aliás, este acaba linchado e morto pelos companheiros... Dá que pensar a certos senhores em Portugal, se não seria pior terem nascido brasileiros!
Assim vai o mundo...
terça-feira, julho 26, 2005
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