Dar a minha opinião sobre a série House e dizer que gosto muito de medicina, deu azo a uma discussão entre duas das meninas que visitam o meu mundo. Essa troca de palavras descambou e senti a necessidade de escrever este post...
Creio que as duas esqueceram rapidamente que Gregory House é uma personagem de ficção. Representa um médico inteligente, conhecedor das matérias, mas com um lado humano pouco ético e pouca simpatia. É um anti-herói típico, já que acaba por dar as soluções para os casos, atropelando muitas vezes as regras deontológicas. É claro que há médicos assim... Que apresentam um competência profissional enorme e uma componente humana execrável. Por exemplo, o médico que posso considerar "de família" (já que eu, meu pai e minha avó somos consultados por ele), é assim mesmo. Nunca o vi sorrir, está sempre mal-humorado e com piadas sarcásticas. No entanto, é extremamente comptetente. Por outro lado, os dois pneumologistas que me acompanham por causa do pneumotórax são de uma simpatia incrível. Tudo isto para dizer que quanto ao House, a sua falta de afabilidade resulta do homem e não do médico. É a própria ex-mulher na série que o afirma, e é essa a causa de existir o Dr. Wilson (o médico simpático) e a Dra. Cameron (uma médica delico-doce que chora que sofre com os doentes). Tem de existir esse contrapeso à acidez do House...
Relativamente à discussão em si, há uma coisa que me faz mais confusão: é como duas pessoas inteligentes cairam emk generalizações. É óbvio que há péssimos, maus, bons e excelentes médicos. Acho que já apanhei todas as categorias! E continuo a confiar imenso neles. Sei que nada tem de deuses.
Costumo dizer que sou um óptimo doente (porque cumpro as ordens dos médicos à risca) e um péssimo queixoso (porque só em última instância me atrevo a chatear um médico com dores).
Acredito que ver entes queridos sofrerem por causa de negligência médica, custe muitíssimo. Também o meu avô foi mandado para casa do hospital e morreu nessa noite em casa. Também eu passei um dia no hospital com um tubo no peito sem que ele estivesse no sítio certo. Mas ainda assim confio neles. Porque eles sabem mais que eu...
Se há mais condições nos hospitais universitários americanos que nos portugueses, sim... Se o House teria mais dificuldade (talvez mais valor), se a série se passasse em Angola, sim... Se as pessoas não se devem auto-medicar ou armar-se em médicos, não... Se a alguns médicos interessa que haja listas de espera porque faz com que a medicina privada tenha mais pacientes, sim... Se os médicos quando estão doentes se tornam pacientes chatos, sim... Se vi um caso de negligência gritante quando vivi em Itália, sim...
Agora, directamente para as meninas:
Lolita, há problemas em todo o lado. Hunter «Patch» Addams (há o filme com o Robin Williams) teve uma luta com a sua universidade por causa da sua humanidade. à causa disso criou a clínica de assistência grátis Gesundheit que tem uma lista de espera enorme...de médicos a quererem trabalhar lá. E cá também há médicos assim e é preciso confiar neles!
Woochi, sei que poderás ser uma óptima médica. Mas tens razão quando dizes que ainda sabes pouco. No dia em que a tua cara for a última coisa que um paciente vir, terás de ter a certeza que fizeste tudo por tudo. Não se espera milagres teus, mas que ponhas todo o teu saber e vontade na profissão. É que é um limbo perigoso quando se trata da vida humana. Sir Arthur Conan Doyle, autor das aventuras de Sherlock, escreveu na sua caricatura ao receber o diploma de medicina: "License to Kill". Tu tens "License to save"...:)
Assim vai o mundo...
quarta-feira, setembro 20, 2006
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7 comentários:
Bem, Francisco tinha decidido não voltar a falar deste assunto.. mas já que falas no assunto...
1. Não tenho dificuldade em distinguir a realidade da ficção.... já distinguir o papteta do bush, isso sim, é mais complicado.
Tanto a série como o filme com o Robbin Wiliams do qual falaste, deram ambos na minha estação, portanto... dá para ver que "não são reais"
2. A conversa não descambou, já que um blog serve exactamente para darmos as nossas opiniões.Senão qual seria a piada?
3.Não, não confio nos médicos. Lamento.
Fiquem bem.
Lolita, tudo bem...:)
Chico Maravilhas, eu bem achava que não valia a pena post sobre estas quezilias...viste?
Luna, sabes que tento sempre consensos...:D É a minha antipatia natural por discussões e extremismos...:D
este tem de ficar para mais logo, tenho de ler com atenção...
Está bem dito, sim senhor! Não conheço a série em causa, mas filmes, são filmes e tem de se compôr o ramalhete. Quanto ao exercício da medicina, dou imenso valor à classe, mas sobretudo àqueles que pertencem a Organizações Humanitárias; tenho um amigo da adolescência que pertence à AMI, até aparecia num anúncio há uns anos, e passa pouquíssimo tempo no hospital das Caldas onde pertence, pois quando pode, aí vai ele para o Iraque ou Afganistão, Etiópia e por aí fora, vem sempre de lá horrorizado, mas sente que tem de continuar a fazê-lo, mesmo sem condições...
Sim, essas pessoas tem um lugar muito especial no meu coração, até porque ajuda humanitária e auxilio internacional são da minha area...
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