terça-feira, maio 17, 2005

Medos...

Acabei de ler o livro "Diário da Nossa Paixão" de Nicholas Sparks. É um bom livro, sobre o amor em que mais uma vez, tal como n' "As Palavras que Nunca te Direi", os melhores momentos surgem nas cartas apaixonadas escritas pelos amantes. Mas decidi pegar noutra das componentes do livro que não o lado amoroso...

Não tenho medo de morrer! Não sei porquê, mas nunca tive... Sempre gostei de viver bem a minha vida, sem me preocupar minimamente com o seu fim. É verdade que desde sempre tive uam sensação que não viverei muitos anos, mas nem isso me assusta. Mas o que realmente me assusta...
Tenho uma óptima memória! Para datas, caras, nomes, pormenores, cheiros, sabores, etc... Costumo dizer que chega a ser maldição porque depois espero que os outros sejam como eu e fico triste quando certos pormenores são importantes para mim e nem tanto para os outros.
Ora bem, o que tem isto a ver com tudo o que já disse? Simples, eu não tenho medo da morte, mas envelhecer assusta-me um pouco. No livro é aflorada a questão do Alzheimer. E a hipótese de ir ficando sem memória e poder perder esta capacidade que tenho de me recordar das coisas e das pessoas faz-me confusão.
Nos últimos anos de vida o meu avô começou a sofrer de Alzheimer e eu ficava incrivelmente triste quando ele não sabia onde estava, ou sem se lembrar que a minha avó já tinha morrido, ou quantas filhas tinha, ou se já tinha comido! A lista é interminável e a cada uma ficava destroçado. À medida que o dia ia avançando, pois de seis em seis domingos era a vez da minha mãe ficar com ele, apercebia-me que a sua capacidade cerebral ia diminuindo e que o ocaso do dia era o ocaso da sua memória. Mas apesar de tudo, era por vezes surpreendido, como naquela vez em que sozinhos no carro ele perguntou: "Chico, a tua mãe demora?". Fiquei de tal forma surpreso que nem sei o que respondi...

Pois bem, no livro o protagonista diz a certa altura: "Se não fossem os meus diários, juraria que só tinha vivido metade do tempo que vivi. Longos períodos da minha vida parecem ter desaparecido. E mesmo agora leio algumas passagens e pergunto-me quem era eu quando as escrevia, porque não consigo lembrar-me dos acontecimentos da minha vida. Há alturas em que me sento e pergunto para onde foi tudo."... Por isto mesmo e pelo receio que tenho dessa infame doença que nos rouba as más mas também as boas recordações, cada artigo que escrevo aqui é uma cábula que me ajudará a recordar a minha vida quando a memória real me começar a falhar...

Assim vai o mundo...

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