Cheguei e parto amanhã para Mira. Não quis no entanto partir sem deixar o relato da minha visita. Farei também um post com as fotos mas hoje é impossivel porque tenho um problema com a máquina...Ficam assim aqui as "Notas de Cuba"...
-Quis a minha inocência que ao perguntarem-me na alfândega qual era a minha profissãom eu tenha respondido Técnico de Relações Internacionais. Essa é de facto a minha profissão mas mal acabei de o proferir compreendi que estava a fazer asneira. A guarda da imigração levantou logo os olhos e seguiram-se 10-15 minutos de perguntas: se era a primeira vez que estava em Cuba, onde trabalhava em Portugal, em que consistia o meu trabalho, se trabalhava apenas no meu país, com quem vinha a Cuba, com que propósito, durante quanto tempo, se algumas vez tinha trabalhado na América do Sul, etc. Nem há dez minutos esava em solo cubano e tive o meu primeiro interrogatório. Tudo se resolveu a bem porque o meu trabalho nada tem de político e venho a Cuba em férias. Porém comecei a pensar que deveria ter respondido voleibolista...
-O calor em cuba chega aos 35 graus.É abafado, impede de respirar. Depois de um voo de oito horas (que desespero), chegou a vez de aproveitar oito dias de férias. O hotel tem muito boas condições, ou seja, uma piscina enorme e um mar azul.
-À noite o primeito contacto com este continente. A animação do hotel presenteia-nos todas as noites com um show de música e dança. Músicas de toda a América, desde o tango argentino, o samba brasileiro, as flautas andinas e a salsa e rumba. Um festim para os ouvidos e a constatação que os cubanos dançam que se fartam...
-O jet lag afectou-me ligeiramente o sono, o que fez com que estivesse uma hora acordado a meio da noite. Serviu para relembrar a viagem e o que ficou em Portugal.
-De manhã, um pequeno almoço gigante com panquecas, pão e sumo de frutas. De seguida, ida para a piscina. Uma água muito quente e um sol maravilhoso. Hoje é dia de não fazer nada.. À tarde um salto à praia. O azul límpido do mar é o mais bonito que já vi. A temperatura da água satisfaz o mais exigente dos humanos. Um senão, é muito salgada. Mas também não estou aqui para bebê-la...
-As notícias vão chegando a espaços. Ouço que há novidades no caso McCann mas pelos vistos nada de definitivo. Falarei disto um dia destes. Recebo também ecos de que caiu uma ponte nos EUA há uns dias. Pois bem, para quem muitas vezes teima que só em Portugal se passam algumas coisas, pelos vistos noutros países também...
-Ontem foi dia de saída. Fomos até um bar ao ar livre, repleto de gente. Primeiro deram músicas universais que estou um pouco farto de ouvir, depois puseram algumas músicas cubanas com arranjos mais mexidos e finalmente umas músicas mais antigas (anos 80 e 90), que deu para lembrar as primeiras saídas à noite.
-Por falar nisso, as mulheres cubanas. Fui avisado (até pela minha mãe) que elas são atrevidas, sobretudo com os turistas. Não vejo isso! Vejo que as cubanas gostam muito da matreirice e calor dos cubanos. Nem dão importância aos turistas. é engraçado estar algo aparte e observar isto. Se eu tivesse feito esta viagem para ter algo seria uma coisa, mas assim é diferente. Apesar de ter sido abordado aqui, já fui muito mais assediado em Portugal. As cubanas transpiram sensualidade, mas é com os cubanos. Vi mais sexo numa dança entre cubanos que em muitos actos propriamente ditos. No entanto, os turistas não parecem interessar. Sendo assim, é bom estar do lado tranquilo. Até porque gosto de seduzir, não engatar. Por isso, observo...
-Aquilo que disse das cubanas aplica-se às turistas. Vi mulheres de várias nacionalidades a deixarem-se levar por cubanos (mesmo que feios) por serem cubanos. Não tenho que condenar ninguém, mas ainda bem que não me atiro a tudo que mexe, que não perco uma certa compostura. Mesmo bêbado...
-Escrevo agora que chego de Havana. Foi uma manhã e uma tarde a visitar uma cidade que precisa de muitos mais dias para se conhecer. Decidimos partir de táxi de Varadero, e revelou-se uma opção acertada porque os sinais que indicam as estradas rareiam. Cheios de sono da noite anterior fomo-nos deixando levar na auto-estrada (que permite que peões e bicicletas a utilizem, e que em termos de piso se assemelha a uma nossa Estrada Nacional). Fizemos uma pequena paragem naquela que é a ponte mais alta de Cuba e seguimos caminho. O percurso demorou mais porque apesar dos limites de velocidade serem os normais, os polícias não tem radares. Ora o que acontece é que os taxistas reduzem para velocidades tartaruguescas para não correr riscos. Entramos em Havana por uma estrada secundária e desde logo vimos uma nova realidade. Alguns bairros de casas pré-fabricadas e escolas que, nas palavras de um dos canadianos que nos acompanhava, se assemelhavam a celeiros. Ainda à distância, estivemos no local onde lado a lado está o museu de Che Guevara e uma estátua de Cristo. Em seguida fomos a uma loja de charutos onde está o charuto mais comprido do mundo (com direito a lugar no Guiness). Pensamos em comprar charutos mas eram muito caros. O nosso taxista-guia logo nos informou que se quisessemos falaria com um amigo que arranjaria mais baratos. Arrancamos para o coração da Havana, entrando pela Havana Moderna. Aqui há muitos edifícios novos (hóteis e centros comerciais) e os velhos palacetes estão ocupados por coisas tão diferentes como uma multinacional ou uma barbearia. Paramos um pouco em frente ao monumento que homenageia o poeta da revolução José Marti. Um edifício enorme em frente a uma praça descomunal. Do outro lado, um edifício com mais uma homenagem a Che. Tiradas as fotos, seguimos para o Capitólio. Construido à imagem do de Washington, consegue supera-lo em altura. É uma recordação do tempo de Batista, o anterior ditador que tinha o apoio do governo norte-americano. Ao fundo das escadarias da entrada, dezenas de cubanos vendem de tudo: comida, bebida, fotos, indicações, mapas, etc. É-nos dito que são pessoas que nao querem trabalhar e se limitam a viver dos turistas. Decidimos não entrar e seguimos para a Floridita, o bar onde Hemingway tomava os seus daiquiris. Sem nada no estomago, os daiquiris começam a fazer o seu efeito. É já bem animados que vamos ter com o amigo do taxista. Ora, ele é Juan! Nem mais nem menos que outro guia, que fala inglês perfeitamente e que para além dos charutos nos apresenta a possibilidade de conhecer Havana Vieja. Depois de nos revelar que gosta muito do Figo, prometo-lhe a camisola dele que trago na mochila. Em troca queremos uma visita inesquecível. Com este guia só poderia ser assim. Juan leva-nos numa carroça de cavalos aberta, em que podemos ver tudo. A primeira paragem é a casa do último Governador Espanhol. Por esta altura, as pilhas da minha máquina estavam nas últimas e tive que seleccionar o que queria fotografar. Parámos perto da Igreja de São Francisco para comprar água. Apercebo-me então de uma diferença entre Havana e Varadero. Se onde está o hotel as cubanas pouco se interessam nos turistas, aqui na capital elas comem-nos com os olhos. Se por acaso olhamos alguma, o seu olhar irá seguir-nos até irmos embora. Entretanto, Juan vai discorrendo sobre a má situação dos cubanos, sobre as doze primas que tem e que se quiseremos vão ter conosco, sobre a sorte que tem apesar de tudo, etc. Leva-nos agora num passeio mais comprido em que passados por algumas igrejas em que os santos não tem cabeça, pela estação de comboios (velhíssimos), por outro bar onde bebemos mais uns daiquiris... Finalmente chegamos a uma das lojas de charutos mais conhecidas. Em plena loja, diz em inglês que aquilo era uma exploração e diz para comprar-nos só um charuto. Com ele já estamos por tudo e fazemos o que diz no meio de gargalhadas. Explica que nos levará a casa de uma amiga para comprarmos. Em tom de sussurro diz que mandará o condutor da carroça embora porque é um informador ("chibo") do Governo. Seguimos então a pé para o meio de um bairro velho de Havana. Apesar de sermos quatro, apesar de um dos canadianos ser jogador de rugby, se isto não corresse bem, acabávamos todos numa valeta. Apercebemo-nos desta situação mas mantivemos a calma. Chegamos à casa da amiga (de seu nome Amália) e sentamo-nos nos sofás da sala, mesmo ao lado da cozinha. Ora, peço-vos que imaginem a cena. Dois portugueses e dois canadianos sentados numa sala de estar cubana a beber café Cubita e à espera de mercadoria não muito lícita. Juan explica-nos que Amália trabalha na fábrica de charutos e que por dia pode trazer cinco charutos (ou uma caixa da vinte e cinco no fim da semana) para fumar em casa. Aquele bairro é toso habitado por pessoas que trabalham na fábrica por isso consegue-se arranjar o que queremos. Um dos canadianos, o nosso especialista na transacção, tem uma loja de charutos no Canadá. Ele pega no charuto comprado na loja e num à sorte da caixa contrefacta. Cortamos um pouco dos dois e dão-me a cheirar (sou o especialista em cheiros). Confirmo que são iguais. Ao olhar-mos as folhas (porque um charuto verdadeiro é feito com apenas uma folha), vemos que são feitos da mesma forma. Falta apenas a prova do sabor. O charuto novo passa tão bem a prova que até dizemos que é melhor que o outro. Este facto explica-se facilmente uma vez que é mais fresco. Sem nada no estômago a não ser álcool e a fumar um charuto, o nosso especialista canadiano confessa-nos que está tão tonto que não se consegue levantar. Começamo-nos todos a rir e pedimos café extra. Chegar a parte de escolhermos a marca e tipo que queremos levar. Sendo que só se pode levar o máximo de 50 charutos para fora de Cuba, eles levam seis caixas (de 25) entre os três e eu levo uma dos meus favoritos: Romeo e Giullieta do tipo Churchill. Para quem não sabe sabe dos mais finos e compridos, favoritos do antido primeiro ministro inglês. As caixas que queremos levar variam entre os 250 e os 350 dólares ou pesos convertíveis cada uma. Levamos as sete por 700 pesos convertíveis. Que negócio! Além do dinheiro, deixamos canetas, amostras de perfumes, as minhas outras camisolas de futebol, um ou dois pólos, escovas dos dentes, etc. Juan agradece e diz que dará a um padre porque é a melhor pessoa para as distribuir. Perguntamos-lhe se é católico e ele diz que cada vez mais porque só assim se aguenta. A casa onde estavamos era pobre, com pessoas sempre a entrar e a sair, um velho à porta numa cadeira de baloiço (a fazer lembrar uma personagem do Kusturica) e um gato com um olho cego. Parecia um cenário de um filme de gangsters e podia ter corrido muito mal, mas acabamos por sair de lá com um óptimo negócio e imensa simpatia por todos. O nosso táxi já estava à porta e despedimo-nos de Juan com um abraço e a camisola do Figo. Os seus olhos brilhavam. Fomos comer algo ao fim da tarde. Era a primeira coisa que metiamos à boca que não álcool. O bife não era nada de especial mas serviu para os canadianos meterem conversa com as empregadas cubanas. A viagem de regresso foi louca. Já de noite, imaginamos como seria de nos tivéssemos metido à aventura de alugar um carro. Acabariamos na valeta como os 14 carros que vimos empenados. Com a agravante que é proibido aos cubanos dar boleia a turistas.
-Hoje na discoteca uma cubana pensou que eu era cubano. O moreno da pele e o espanhol na língua devem te-la confundido. Ah, para que conste ela foi embora logo a seguir. Apenas queria cigarros...
-Último dia completo neste belo paraíso. Sinto já alguma nostalgia. Deu para matar as saudades de jogar volei com os animadores e outros hóspedes. No fim, um choque e o joelho quase cedeu. Preferi para porque a minha época só começa em Setembro.
-Apesar das dores no joelho, a última noite era para ser aproveitada. Grande festa no El Castellito. Depois acabei na praia do hotel a fazer conversa com uma cubana enquanto a amiga dela estava entretida com um dos canadianos. Serviu para ouvir estórias de uma nativa, como por exemplo que ninguém é desempregado em Cuba. Só se quiser. O Governo oferece emprego ou dá 90 pesos convertiveis para ir tirar outro curso. Por outro lado, o Governo não demite ninguém. Pode mudar-lhe o emprego mas não o demite. Depois do amigo e da amiga resolveram os "assuntos", é tempo de dormir.
-O dia da verdadeira despedida. Hora de balanços. Primeiro o mau. Há muita pobreza, demasiada. Os médicos são tão mal pagos que as pessoas levam presentes às consultas (que diferença para a Europa). O Governo cubano dá um litro de leito por dia às crianças até aos 7 anos, mas depois é tão caro que ninguém bebe. Os cubanos não são permitidos nos hóteis e os nossos animadores tinham de nos pedir coisas para comer e beber. Os cubanos não podem sair do país, mesmo uma filha de seis anos visitar o pai que está emigrado há 5 anos. Os nossos animadores tiveram que dormir um ou dois dias na praia, porque saíram conosco, quiseram voltar conosco e o hotel não permite que funcionários possam dormir lá. Os cubanos não podem estar a falar com turistas à noite na rua nem dar-lhes boleia. Podia continuar mas não me apetece. Quero falar de coisas boas. Como o mar maravilhoso, o clima fantástico mas sobretudo as pessoas. Esta gente fantástica que apesar de todos os problemas tem uma generosidade enorme. A alegria com que vivem, dançam, cantam, encantam é inenarrável. Não há palavras suficiente para os elogiar. Quem pede uma informação pode ser a certeza que um cubano fará tudo para o ajudar.
-Voltarei a Cuba, mas só depois de Fidel morrer. Porque não consigo ver novamente certas coisas...
PS- Já depois de voltar a Portugal, soube que uma bela cubana que conhecemos no hotel (empregada de mesa) foi presa porque foi apanhada pela policia com o nosso amigo canadiano. Não estavam a fazer nada de mais mas assim é Cuba no seu pior...
Assim vai o mundo cubano...
domingo, agosto 12, 2007
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11 comentários:
:) Relato com tom sereno, narrativo e crítico, como me tenho habituado a ler aqui :)
Mas vais continuar em passeio não é? Por isso resta-me desejar boa continuação de férias! :))
O meu menino está de volta!
Incrível esta coisa dos blogs e dos bloggers. E não é que, a semana passada, dei por mim a pensar...Será que o Francisco está bem lá em Cuba?
Adorei ler as impressões da viagem, tão bem escritas que quase senti o cheiro da fábrica dos charutos e vi o padrão do sofá, ao pé da cozinha, na casa da cubana. Um qualquer passeio por Havana, deve parecer uma aventura com a Mafia; e mesmo os mafiosos, se lhes soubermos falar e sorrir...
É decerto, uma cidade muito cinematográfrica.
Ainda não fui a Cuba, mas costumo dizer que irei com o Fidel ainda vivo, como se ele fosse monumento, agora depois de te ler,não sei não. Não gostei.
Continuação de boas férias e surreais passeios.
Beijos de Laurita
aifos, a minha escrita descreve-me ...:D
Estou de facto em passeio, mas descobri que em Mira tenho hipótese de passar aqui pela net...:D
Beijo
laura, e deste bem porque eu levei-vos no pensamento...:D E por isso tive a escrever este relato às 6h da manhã...:D Quanto a Cuba, ir lá antes dele morrer é descobrir muita coisa má... Eles diferenciam muito o Fidel do Che! Che é para eles um herói. Fidel é aquele que em nome duma utopia, mantém os cubanos num sonho destruído... Depois de voltar para cá, espero que os cubanos encontrem rapidamente o seu caminho...:D
Beijo, linda
Ai, Cuba...
Welcome back!
beijinhos
Olá! Caí aqui de para-quedas e logo me deparei com este post que muito me diz...
Cuba...2002...
Espero que não tenhas perdido os Mojitos na "La Bodeguita del Medio" e os vendedores de charutos em pleno mar, isso mesmo :)
Ahhh, para não falar dos dois check-in's no aeroporto de Havana por los mejores lugares ;)
Voltarei, gostei!
(Desculpa tratar-te por tu logo de caras, coisa que muito dificilmente faria antes de entrar na Blogosfera!)
maria, muito obrigado...:D
Beijo
Natacha, fazemos assim: tratamos os dois por tu!!!:D Quanto a Havana fiz muita coisa lícita e algumas menos lícitas como escrevi no post. Voltarei lá mas com outras circunstâncias. Porque sou turista mas não me consigo desligar da vida deles...
Beijo
belas férias! fizeste-me recordar a minha viagem a Cuba, há uns anos.
tive direito a furacão, michelle de seu nome. se houver arquivos dessas coisas, hei-de ir confirmar a data.
estive um dia inteiro fechada numa sala, dentro de um hotel, sem ver a luz do dia e a comer a "ração de combate" que nos deram. dessa parte não gostei.
mas no dia a seguir, fui ver os estragos. mas o uqe estava quase a caír não caíu, contunuava tudo na mesma. se não fossem umas a´rvores caidas e o malecón cheio de areia, eu não diria que tinha passado um vendaval daqueles.
não foste ver as plantações de tabaco a Viñales? é lindíssima.
pronto, já escrevi demais!
ciao ciao.
continuação de boas férias
tanto erro......
agora é tarde!
lucia, eu perdoo-te...:D Adorei Cuba...
Beijo
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