Há uns dias questionei a qualidade literária de Margarida Rebelo Pinto. Eis que após ler um excerto do seu novo livro (Português Suave) e a entrevista dada a Carlos Vaz Marques, tenho algumas considerações. Certos escritores (como Sepúlveda e Francisco José Viegas) deram-nos vontade de os conhecer pessoalmente depois de ler os seus escritos. Ora, eu nunca li um livro de Margarida, mas a leitura de algumas das suas crónicas, de escertos de livros seus e de algumas entrevistas fazem com que preferisse ter conhecido primeiro a pessoa para depois entender a escritora. Margarida é uma mulher culta, independente, inteligente. Não tem uma escrita elaborada, usa frases curtas, porque não quer falar para os críticos literários mas para as massas. O objectivo. por ela admitido, era chegar ao milhão de livros vendidos. Consegui-o. Mesmo que os seus livros sigam sempre a mesma fórmula e por vezes as mesmas ideias centrais. Ela defende-se na entrevista dizendo que todos os escritores o fazem. Nomeia Gabriel Garcia Marques. Ora o Cem Anos de Solidão, Amor em Tempos de Cólera e Ninguém Escreve ao Coronel só tem um ponto em comum: Gabo. Dizer que todos os autores auto-biográficos é uma coisa mas só o pode fazer o escritor que tem uma vida cheia de eventos. A vida de Margarida é ainda curta. E por isso há repetição de temas. Escrever 14 livros em 9 anos faz mossa. E uma das mossas é não se lembrar de um acontecimento descrito por si num livro (aliás ela admite que estava a pensar usá-lo num próximo livro) ou então quando cita uma personagem sua sem saber de que livro é. Ora, até hoje escrevi três peças de teatro, três contos e uma short-story (para além de inúmeros posts nos vários blogs). Cito muitas vezes textualmente o que escrevi e em nenhuma altura os confundo. São todos algo biográficos. Ou melhor, através de um acontecimento ou pessoa da minha vida, criei uma ficção. Na minha cabeça nada se confunde. E na de Margarida também não devia acontecer. Sobretudo porque ela diz preferir as três razões para ser escritor que Agustina costuma nomear: inteligência, vontade férrea e uma memória prodigiosa. Ora, as primeiras eu reconheço facilmente em Margarida, mas a terceira tenho de ter algumas reservas.
Margarida diz que desde o AVC que a atingiu no ano passado, se tornou uma pessoa diferente a escritora mais madura. Compreendo bem isso. O meu susto do pneumotorax serviu para eu ter essa epifania aos 21 anos. Serviu para eu entender que não vale a pensa preocupar-nos muito com a vida, sob a pena de não a vivermos. Acredito que ela esteja diferente, mas ainda subsistem muitos fantasmas. É a própria que reconhece ter uma certa obcessão com a morte. Ela tem de ultrapassar isso. E a sua escrita também.
Há uma coisa que tenho de apontar a Margarida enquanto pessoa. Carlos Vaz Marques é um jornalista competente, um exímio entrevistador e foi-me dito uma pessoa muito acessível. A ameaça de acabar com a entrevista (desligou o gravador) e a acusação de que ele estaria a conduzir mal a entrevista é uma atitude infantil e mimada. A pessoa Margarida tem de aceitar que a escritora Margarida é algo repetitiva e não pode amuar porque o entrevistador a questiona sobre esse facto. Foi uma atitude errada mas toda a gente tem direito a errar. Um dia lerei um livro dela. Para tirar teimas.
Ah, gostei das várias citações ao longo da entrevista, mas uma ficou-me: "Só conseguimos arrumar com o passado quando o pomos em livros", disse Carmem Posadas.
Assim vai o mundo...
quarta-feira, julho 23, 2008
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6 comentários:
Da Margarida li 2 livros. O Sei Lá e o Não Há Coincidências. Não ter tido vontade de ler mais nenhum e sobretudo já não me lembrar das histórias (o que não me acontece com um livro de que eu goste mesmo e do qual possa retirar informação ou aprendizagem válidas) deve querer dizer que não vale a pena gastar tempo em leituras que de tão light que são se tornam vazias, sem conteúdo. Deve ser por isso que até hoje ainda não comecei a cumprir com um dos meus objectivos de vida, o de escrever um livro. Porque ainda não tenho nada a dizer que possa conter uma mensagem que valha a pena reter. Porque ainda não cresci ou aprendi o suficiente.
cat, olha que acho que um livro teu seria bem mais interessante do que um dela...:D
Beijo
Francisco, sempre um querido. :)
beijos
cat, querido mas verdadeiro...:D
Beijo
Eu li o "Não Há Coincidências" há uns bons anos atrás, pois o título chamou-me a atenção.
Mas confesso, que tal como alguns escritores me fazem comprar os seus livros por gostar da pessoa (ou da pequena parte que é dada a conhecer), no caso da MRP, acontece exactamente o contrário. Não aprecio vê-la na tv, ler as entrevistas, enfim... são gostos!
livros, mas eu até queria dar-lhe a ela o beneficio...:D
Beijo
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