Aprendi contigo, mestre! Saído do metro com o saco às costas. Sem saber onde dormir ou comer... Lembro as tuas estórias apátridas em que te perdias em cidades desconhecidas e partias à aventura. Não sinto medo desta ignorância. Estou na capital do meu país, e sinto que não a conheço. Fazia-me falta mergulhar nesta cidade e vaguear. Percorro algumas ruas, procurando onde ficar, mas o meu olhar fixa-se nas pessoas e nos lugares. Agora calcorreio uma longa avenida repleta de bancos e agências de seguros. É uma rua fria, em que as pessoas caminham apressadas e os prédios parecem tristes. São prédios que fervilham de vida e actividade durante o dia, mas que à noite parecem tristes e solitários. Nem a publicidade luminosa consegue animá-los. Parecem gigantes com pés dourados mas troncos sombrios. Esta imagem entristece-me e decido virar numa rua perpendicular. Prefiro estas ruelas marginais, sombrias por definição mas que encerram uma vivência maior. As pessoas nas entradas dos prédios decrépitos e nos cafés/tascas. Caminho distraído, e quando olho para cima, leio Residência Midi. Estaco, e miro a entrada do prédio. Sorrio... Parece-me um sítio em que pararias, mestre, e decidirias pernoitar. A minha indecisão é vista por um homem que vai a entrar. Pergunta-me se procuro alguma coisa. Apetece-me responder liberdade e tranquilidade, mas respondo um sítio para dormir. Diz-me então que a residência tem sempre quartos e convida-me, abrindo a porta do prédio... Entro no elevador antigo, de portas de correr, e carrego no terceiro andar. Chego ao destino e primo a campainha. Surge-me uma figura típica!
Um homem de olheiras fundas e um bigode amarelecido. Com uma voz grave, diz-me que tem muitos quartos. Entro e observo... O soalho e as portas altas de madeira fazem-me recuar à minha infância e à casa da minha avó. Fez-me lembrar o cheiro a compota e a cera de madeira... Soube imediatamente que iria ficar ali, talvez uma noite ou uma vida! Escolhi um dos quartos e ouvi com atenção as piadas e historietas do homem. Primeiro fazia-me a pergunta, de onde vinha e quantos anos tinha, e depois disparava uma história relacionada. Ouvi e dificilmente esquecerei porque foi contada com a tinta do tempo, e essa não se esquece....
Assim vai o mundo...
sexta-feira, abril 15, 2005
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