quarta-feira, junho 13, 2007

O Ultimo dos Romanticos

Diana (II)

Passei a tarde distraído. Apanho um autocarro e encontro a morada perguntando a um velhote. São quase oito horas e a luz é escassa. Paro em frente à casa. É uma casa grande e muito bonita. Tem algumas luzes acesas. Abeiro-me da caixa do correio para ler a placa: Diana Guerreiro.
- Bem, casada não deve ser! - constato em voz baixa.
Enquanto me aproximo da porta, lembro-me da figura e do nome. Realmente, o nome da deusa grega da caça assentava-lhe como uma luva. Os cabelos rebeldes e o ar desembaraçado davam-lhe uma beleza invulgar. Toco, a medo, a campainha. Tem uma melodia comprida e agradável. Esperava alguém em trajes menos formais, mas tenho uma surpresa maior:
- Sim, posso ajudá-lo? - pergunta numa voz quente.
Fico parado a olhá-la. Veste apenas um roupão turco e o cabelo molhado ainda pinga.
- Eu… quero dizer, nós… hoje de manhã… - gaguejo.
- Calma, então! Foste tu ou fomos nós? – o discurso feito na segunda pessoa levou a acalmar-me.
- Eu sou a pessoa que chocou consigo hoje de manhã. Disse-me que se ficasse com algum papel seu, para o enviar. - expliquei-me.
- E decidiste fazer uma entrega pessoal - respondeu em tom provocatório.
- Pensei que algum podia ser urgente. - falo como se tivesse sido apanhado em falta.
- E pensaste muito bem! Vejo que estás muito mais bem-humorado. - riu.
Ia replicar, quando um cheiro intenso e conhecido encheu-me as narinas.
- Por acaso, está a cozinhar lasanha? - pergunto, sabendo de antemão a resposta.
- Estou! Escusas é de me tratar por “tu”! - brinca - Eu já me deixei disso. Como pareces um apreciador, como eu exagerei na dose e como me falta companhia, tenho todo o prazer em te convidar para jantar! - e reforça o convite, abrindo a porta totalmente.
O convite é irresistível. Entro numa sala ampla e decorada com bom gosto. Os vários objectos identificavam as viagens da dona da casa. A minha observação é interrompida…
- Põe-te à vontade que eu vou vestir algo mais decente. Podes ir escolhendo o vinho. - acrescentou.
Reparo pela primeira vez num armário onde estão várias garrafas alinhadas. Começo a procurar um bom vinho. Não sei se devo escolher verde ou tinto, por isso pego numa de cada. Ela demorou pouco a voltar. Veste uma saia comprida que lhe favorece a anca. A camisa branca tem vários botões desapertados, o que dá asas à minha imaginação. O cabelo já está seco e usa só um pouco de maquilhagem. Não consigo deixar de a olhar.
- Então, já escolheste o vinho? - pergunta, fingindo não ver o meu olhar fixado.
- Já! - saio da hipnose, agradecido por ela não ter dito – Não sabia se devia escolher branco ou tinto, escolhi uma de cada. Mas o branco não está fresco.
- Ah, um conhecedor! Fazemos assim, bebemos o tinto primeiro, enquanto o branco refresca no congelador. - pega nas garrafas - Ah, escolheste bem. Pelos vistos, sabes de vinhos. - esta frase funciona como convite a falar de mim.
- Mais ou menos! Disse-te que gosto muito de comida italiana, - sigo-a até à cozinha - e escolho os vinhos em função disto.
- Ora bem, a lasanha está pronto! Abre a garrafa, enquanto ponho mais um prato na mesa.
É incrível o desembaraço dela. Está em casa com um perfeito estranho e para além de tudo, age como se fosse normal. Começo a pensar que ela é a melhor coisa que me aconteceu há já muito tempo.
Começamos a jantar. A comida estava óptima e a conversa ainda melhor. Não ficamos pelas duas garrafas, nem pelas três, nem pelas quatro. Tomamos café e comemos gelado. A língua foi-se soltando e os sentidos cada vez mais despertos. Decido lavar a loiça como retribuição.
- É assim, nasci numa vila do interior, vim estudar para cá e tive a sorte de arranjar logo emprego. Pagam-me bem, faço o que gosto e vivo onde quero. Sinto-me bem! - desabafa.
- O que mais me custa a acreditar é como uma mulher como tu não tem namorado ou marido? - pergunta, enquanto arrumo o último prato.
- Tive alguns namorados que se revelarem desastres e depois deixei de lhe dar importância. - vamos até à sala, onde ela acende a lareira.
- Mas não sentes faltas? - estou verdadeiramente curioso como uma mulher daquelas pode estar sozinha.
- De quê? De ter alguém com quem partilhar as coisas boas? De alguém que me dê afecto? Claro que sim, mas desisti de procurar.
- Desististe?
- Sim, acredito que não tenho de procurar para encontrar.
- Acreditas que vais chocar com alguém especial? - a palavra sai-me directa sem que me aperceba e sinto-me embaraçado.
Uma gargalhada alta e bem-humorada é a primeira resposta.
- “Chocar” é uma palavra interessante! E tu? - desvia a conversa, e ainda bem - Conta-me mais coisas sobre isso.
- Penso durante alguns instantes. Ela merece que conte a verdade mas não agora.
- Eu? Sou de uma cidade daqui de perto e vim estudar para cá. E aqui estou! - não me apetece contar muito mais. Não hoje.
- Ah, uma história simples! - tenho a certeza que ela quer perguntar mais coisas, mas não me obriga a nada. Diz apenas:
- És muito misterioso! - parece-me um elogio.
- Isso é bom ou é mau? - o ambiente, a música, o vinho, ela…
Inclino-me e beijo-a a medo. Ela sente isso e puxa-me para ela. Apesar do vinho, apesar da surpresa, lembro-me de tudo. Pego nela ao colo, subo as escadas, entro no quarto. Ela manda-me sentar na cama. Uma cama baixa, grande. Ela acende velas e começa-se a despir lentamente. Àquela luz, o corpo perfeito dela torna-se uma visão… Puxo-a para mim, mas ela afasta-me gentilmente. É ela quem manda. E eu deixo-me conduzir…
(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sempre desafiado pelas mulheres..;D Anjinho! LOL! Bjs

Francisco del Mundo disse...

Antes por elas...:D
Beijo