Terry Fator foi o improvável vencedor do America's Got Talent! Uma combinação de ventriloquismo, música e imitações. Vejam...
Assim vai o mundo...
domingo, agosto 31, 2008
sábado, agosto 30, 2008
O mundo português nos Jogos Olímpicos...
Decidi deixar passar uma semana para a poeira assentar e as cabeças esfriarem quanto à participação portuguesa em Pequim... Muitos artigos (Daniel Oliveira, Henrique Raposo,António Pinto Leite, etc) mostraram o bom e sobretudo o mau!
Falemos já das declarações. Foram infelizes! Fosse como desculpa, como acusação, como auto-complacência. E nem Vicente Moura escapou. Um dirigente tão experiente já deveria conhecer a psique do público e dos atletas. Confiar na delegação, aumentar a auto-estima e apreço pela representação portuguesa só teria efeitos positivos; mas a promessa de resultados e medalhas só pode resultar em pressão e desilusão. E as justificações dos primeiros atletas que ficaram áquem das expectativas resultaram numa bola de neve de afirmações infelizes que nada dignificam quem as proferiu. O grande bode expiatório acabou por ser Marco Fortes quando disse "De manhã, só é bom na caminha, pelo menos comigo!". Lida assim só podemos pensar que é uma brincadeira. Mas por trás deste comentário jocoso está uma inadaptação clara ao fuso horário de Pequim e às implicações no treino desportivo. Podemos dizer que então fosse mais cedo! Mas Marco Fortes não tinha condições nem dinheiro para tal. Falarei mais à frente das bolsas, mas a título de exemplo ele recebeu do COP uma bolsa de 500 euros durante seis meses. Não é com certeza o maior gastador de dinheiro contribuinte. E podemos dar tanto mais razão à queixa do fuso horário de Marco, porque ele ficou a dois metros do seu próprio recorde. Ora isto só se explica com dificuldade física, não tanto psicológica. Já por exemplo a Naíde foi mais uma questão psicológica. OS dois primeiros saltos foram uma elegia ao desempenho físico, mas infelizmente nulos. O terceiro e último salto foi uma luta contra o medo de falhar. Por isso aqueles passinhos de indecisão perante uma eminente eliminação não permitiram que Naide passasse à final. Ela representa um país, mas acima de tudo representa uma vontade individual. Muitas horas de treino, muito sacrifício! Daí as palavras dela: "Estou parva, fiquei sem reacção. Tantos anos de trabalho, nem consigo chorar!". É o choque misturado com sinceridade. Nem o desgosto consegue passar a apatia. Uma das nossas maiores esperanças foi uma das maiores deilusões. Mas tal como Naide não conseguimos chorar...
Os resultados não foram os esperados. As expectativas eram 4 a 5 medalhas e 60 pontos. Acabamos nas duas medalhas e 28 pontos. Muito abaixo dos 44 de Atenas. Talvez a expectativa tivesse muito alta. Os numeros nunca deviam ter sido revelados. Pelos menos não publicamente. Devia ter havido uma responsabilização dos atletas mas não uma pressão mediática. Todos sabiamos que Telma Monteiro, João Neto, Francis Obikwelu, Naide Gomes, Gustavo Lima, João Costa, Vanessa Fernandes e Nélson Évora eram medalháveis. Dois deles conseguiram. Gustavo ficou em quarto. Houve muitas desilusões por esse mundo fora. Desde logo o favorito chinês Liu Xiang, a maior vedeta no seu país e que ficou de fora da final por causa de uma lesão. Aconteceu a todos. Não foi fado português. É o fado do desporto.
Falemos das bolsas. Os atletas foram divididos por níveis. Entre qualificados e medalháveis, há 4 níveis que dão direito a bolsas dos 500 aos 1250 euros por mês. Podemos dizer que é uma soma elevada, mas pensemos que são os atletas que se dedicam inteiramente a treinar. São os medalháveis. São oito ao todo, e em que dois ganharam medalhas. Pode-se dizer que nem é uma marca má. Aliás, até podemos pensar que os resultados gerais não são maus. Mas depois olho para outros países e tenho de comparar. A Jamaica tem cerca de 2 milhões de habitantes com um PIB per capita abaixo do nosso. E conseguiu 11 medalhas (6 de ouro), ou seja, no 13º lugar do quadro. O que dizer? Que são geneticamente mais fortes? Talvez. Que tem melhores condições de treino? Talvez. Talvez o espírito, talvez a vontade... Talvez muitas coisas...
O futuro do nosso olimpismo, passa pelo futuro do nosso desporto. Vicente Moura, depois de ter reconsiderado manter-se à frente do COI português, pediu mais verba para Londres 2012. Até posso compreender que seja necessário mais fundos, mas também acho bem que se exija profissionalismo e resultados aos atletas.
Uma última nota para RTP! Uma enorme cobertura com imensas horas de Jogos, mas um pouco perdida em termos de horários e modalidades. A cobertura do Eurosport foi mais organizada. Os comentários ficaram muito a desejar, sobretudo nas modalidades colectivas. Ao menos foram belas madrugadas de desporto...
Assim vai o mundo....
Falemos já das declarações. Foram infelizes! Fosse como desculpa, como acusação, como auto-complacência. E nem Vicente Moura escapou. Um dirigente tão experiente já deveria conhecer a psique do público e dos atletas. Confiar na delegação, aumentar a auto-estima e apreço pela representação portuguesa só teria efeitos positivos; mas a promessa de resultados e medalhas só pode resultar em pressão e desilusão. E as justificações dos primeiros atletas que ficaram áquem das expectativas resultaram numa bola de neve de afirmações infelizes que nada dignificam quem as proferiu. O grande bode expiatório acabou por ser Marco Fortes quando disse "De manhã, só é bom na caminha, pelo menos comigo!". Lida assim só podemos pensar que é uma brincadeira. Mas por trás deste comentário jocoso está uma inadaptação clara ao fuso horário de Pequim e às implicações no treino desportivo. Podemos dizer que então fosse mais cedo! Mas Marco Fortes não tinha condições nem dinheiro para tal. Falarei mais à frente das bolsas, mas a título de exemplo ele recebeu do COP uma bolsa de 500 euros durante seis meses. Não é com certeza o maior gastador de dinheiro contribuinte. E podemos dar tanto mais razão à queixa do fuso horário de Marco, porque ele ficou a dois metros do seu próprio recorde. Ora isto só se explica com dificuldade física, não tanto psicológica. Já por exemplo a Naíde foi mais uma questão psicológica. OS dois primeiros saltos foram uma elegia ao desempenho físico, mas infelizmente nulos. O terceiro e último salto foi uma luta contra o medo de falhar. Por isso aqueles passinhos de indecisão perante uma eminente eliminação não permitiram que Naide passasse à final. Ela representa um país, mas acima de tudo representa uma vontade individual. Muitas horas de treino, muito sacrifício! Daí as palavras dela: "Estou parva, fiquei sem reacção. Tantos anos de trabalho, nem consigo chorar!". É o choque misturado com sinceridade. Nem o desgosto consegue passar a apatia. Uma das nossas maiores esperanças foi uma das maiores deilusões. Mas tal como Naide não conseguimos chorar...
Os resultados não foram os esperados. As expectativas eram 4 a 5 medalhas e 60 pontos. Acabamos nas duas medalhas e 28 pontos. Muito abaixo dos 44 de Atenas. Talvez a expectativa tivesse muito alta. Os numeros nunca deviam ter sido revelados. Pelos menos não publicamente. Devia ter havido uma responsabilização dos atletas mas não uma pressão mediática. Todos sabiamos que Telma Monteiro, João Neto, Francis Obikwelu, Naide Gomes, Gustavo Lima, João Costa, Vanessa Fernandes e Nélson Évora eram medalháveis. Dois deles conseguiram. Gustavo ficou em quarto. Houve muitas desilusões por esse mundo fora. Desde logo o favorito chinês Liu Xiang, a maior vedeta no seu país e que ficou de fora da final por causa de uma lesão. Aconteceu a todos. Não foi fado português. É o fado do desporto.
Falemos das bolsas. Os atletas foram divididos por níveis. Entre qualificados e medalháveis, há 4 níveis que dão direito a bolsas dos 500 aos 1250 euros por mês. Podemos dizer que é uma soma elevada, mas pensemos que são os atletas que se dedicam inteiramente a treinar. São os medalháveis. São oito ao todo, e em que dois ganharam medalhas. Pode-se dizer que nem é uma marca má. Aliás, até podemos pensar que os resultados gerais não são maus. Mas depois olho para outros países e tenho de comparar. A Jamaica tem cerca de 2 milhões de habitantes com um PIB per capita abaixo do nosso. E conseguiu 11 medalhas (6 de ouro), ou seja, no 13º lugar do quadro. O que dizer? Que são geneticamente mais fortes? Talvez. Que tem melhores condições de treino? Talvez. Talvez o espírito, talvez a vontade... Talvez muitas coisas...
O futuro do nosso olimpismo, passa pelo futuro do nosso desporto. Vicente Moura, depois de ter reconsiderado manter-se à frente do COI português, pediu mais verba para Londres 2012. Até posso compreender que seja necessário mais fundos, mas também acho bem que se exija profissionalismo e resultados aos atletas.
Uma última nota para RTP! Uma enorme cobertura com imensas horas de Jogos, mas um pouco perdida em termos de horários e modalidades. A cobertura do Eurosport foi mais organizada. Os comentários ficaram muito a desejar, sobretudo nas modalidades colectivas. Ao menos foram belas madrugadas de desporto...
Assim vai o mundo....
quinta-feira, agosto 28, 2008
O mundo da música...
Ontem na 2, foi a vez dos Mesa tomarem conta do espectáculo... Música boa e uma vocalista carismática...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
O mundo da política...
Tenho seguido a convenção do Partido Democrata americano. Segui anteontem o discurso emocionado de Michelle Obama, ontem ouvi Hillary a apoiar Barack, hoje ouvi Bill Clinton a unir o partido e ouvi também Joe Biden, o candidato a vice-presidente. Foram bons discursos, empolgantes. Fiquei agradavelmente surpreendido com a capacidade e preparação de Biden. Depois da sinistra figura de Cheeney, parece-me que há uma figura capaz de ser o nº2 dos EUA....
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
terça-feira, agosto 26, 2008
O mundo da música...
Magnífico o concerto dado na RTP 2: Cinema de Rodrigo Leão no Fórum Lisboa. Aqui ficam pérolas...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
O mundo olímpico...
Acabaram anteontem os Jogos Olímpicos de Pequim e iniciou-se a 30ª Olimpiada que terminará com os Jogos Olímpicos de Londres. Os chineses quiseram organizar os melhores Jogos de sempre, e apesar de bom trabalho, algumas coisas não foram muito positivas. A vistosa cerimónia de abertura acabou por ficar algo manchada pela descoberta da manipulação digital do fogo de artifício fora do estádio e sobretudo pela mudança de última hora da jovem intérprete de uma das canções (a bela menina faz playback e a menos bela cantou atrás de uma cortina). Sem dúvida que a imagem da perfeição era o que as autoridades chinesas procuraram mostrar. Por acaso achei a Cerimónia de Encerramento mais simples mas mais bonita. Por outro lado, não sei a verdadeira razão, estes jogos duraram menos dias. Apenas 16 dias para cerca de 40 modalidades tem um preço a pagar: muita coisa ao mesmo tempo. Bem sei que primeiramente a competição é para os atletas e não para os espectadores, mas assim tornou-se impossivel seguir muita coisa. Tivemos uma primeira semana dominada pela natação e uma segunda dominada pelo atletismo. E nestas modalidades surgiram as duas figuras mais faladas: Michael Phelps e Usain Bolt. No que toca a Phelps, por muito que falem nos fatos e no Centro Aquático "Cubo" (um edifício belíssimo e, mais importante, funcional), ele é um atleta notável. Nadou 14 vezes em 9 dias, ganhou oito medalhas, quebrou 7 recordes do mundo e manteve quer a humildade quer a simpatia. Um campeão que merece todo o destaque. Usain Bolt era visto como um favorito mas as suas vitórias nos 100m e 200m (para além da estafeta 4x100m) foram de tal forma evidentes (dois recordes do mundo) que só se pode louvar tal feito. Aliás, condeno de todo as declarações de Jacques Rogue (ver o artigo do meu caríssimo homónimo). Aliás tivemos vários exemplos de olimpismo nos atletas. Estórias que foram sendo contadas e que ficarão na História... Para a História ficarão também as medalhas, e aqui uma polémica! A China ganhou mais medalhas de ouro e os EUA mais medalhas em conjunto. O que é mais importante? Ora, até hoje, não se punha este problema porque os EUA tinham as duas vertentes, mas agora temos este imbróglio. Ao falar com um amigo, ele propôs uma bela solução: fazer uma gradação das medalhas, ou seja, a de ouro valeria 100, a de prata 75 e a de bronze 50. Isto tornaria mais exacto aquilatar o valor das medalhas. Nesse caso, os EUA ganhariam a primazia... Um último ponto que me esqueci de falar há pouco! A redução dos dias de competição fez com que as finais do voleibol, andebol e basquetebol se sobrepusessem. Ora, sabendo que são modalidades muito acompanhadas no mundo, acho uma estupidez inclassificável. Assim como por a final do futebol para o 12h de Pequim, obrigou o árbitro a parar o jogo duas vezes para os jogadores se hidratarem. Bem, resta-me o consolo que daqui a 4 anos, o meridiano (fuso horário) é o mesmo de Portugal.
Amanhã falarei de Portugal e da sua participação nos Jogos.
Assim vai o mundo...
Amanhã falarei de Portugal e da sua participação nos Jogos.
Assim vai o mundo...
segunda-feira, agosto 25, 2008
domingo, agosto 24, 2008
O mundo do jet-set...
Na revista Única de ontem, Lili Caneças dá uma longa entrevista sobre a sua substância e conteúdo... Não me convence! Não ponho em dúvida a cultura e inteligência de Maria Alice Carvalho (seu nome verdadeiro), mas Lili Caneças estrangula a verdadeira pessoa com a sua necessidade de dizer que é fantástica e que Portugal é um país mediocre. Ninguém obriga Lili Caneças a viver cá. Por mim, figuras assim estariam bem longe! Afirma ela que Lili Caneças morre com essa entrevista e a partir de agora só existe Maria Alice Carvalho. Espero sinceramente que sim e que Maria Alice Carvalho nos mostre algo de bom...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sábado, agosto 23, 2008
O mundo dos jornais...
Gostei desta crónica de Paula Moura Pinheiro...
O que é uma cidade?
LUANDA é uma cidade mais interessante que Berlim.
Sob o persistente capacete de pó das suas ruas de asfalto escalavrado e terra batida, intransitável nas compactas filas de jeeps de último modelo e velhos toyotas remendados, ensurdecedora, sem saneamento minimamente adequado, na coabitação caótica dos musseques com os jovens edifícios "hightech", de incríveis prédios-colmeia com gruas e novas fundações, na decadência dos seus edifícios coloniais, intensamente habitados, usados, reciclados, Luanda é uma cidade mais interessante que a disciplinada Berlim.
O que faz de Luanda uma cidade mais interessante que Berlim? Não, seguramente, a chamada qualidade de vida, "qualidade devida" - na expressão de Luísa Schmidt.
O que faz de Luanda uma cidade mais interessante que Berlim é... a vida. Luanda é uma cidade vibrante, com um comércio febril (nos intermináveis engarrafamentos é possível comprar volantes de automóvel, grelhadores ou a versão local da "motorolla": sanduíches com pasta de atum ou outro recheio à escolha, montadas ali mesmo, aos olhos do cliente), uma cidade onde o presente é permanentemente reinventado, onde todos desenvolvem os seus expedientes à velocidade de uma procura sempre mutante, que é outra forma de dizer iniciativa.
Frenética iniciativa privada, em que se respira a urgência de um futuro que pode ser qualquer coisa de inesperado. Excitante.
Vinte anos depois do incêndio do Chiado, Lisboa, e a zona do Chiado em particular, é também interessante. E é interessante apesar de tão mal gerida. Em rigor, o que torna Lisboa uma cidade interessante acontece à revelia das (alegadas) políticas camarária, urbana, metropolitana. Três exemplos: a loja da Fnac fez mais pela revitalização do Chiado que os sensatos edifícios do erudito Siza Vieira, os precários bares da íngreme Bica ou o assimétrico multicolor dos imigrantes fazem mais pelo cosmopolitismo efervescente da cidade que os seus hotéis de "design" ou casas como a Hermès e a Cartier - cuja coexistência, há que reconhecê-lo, é boa.
Quero com isto dizer que dispensamos a boa gestão autárquica? Não. Quero dizer que uma cidade é muito mais que o seu desenho previdente. Que no início do século XXI temos já a obrigação de saber que o núcleo duro da vida das cidades escapa sempre por entre os dedos aos seus planos e às suas políticas. E que é na aguda consciência da complexidade das coisas que devemos operar.
Paula Moura Pinheiro (in Expresso)
Assim vai o mundo...
O que é uma cidade?
LUANDA é uma cidade mais interessante que Berlim.
Sob o persistente capacete de pó das suas ruas de asfalto escalavrado e terra batida, intransitável nas compactas filas de jeeps de último modelo e velhos toyotas remendados, ensurdecedora, sem saneamento minimamente adequado, na coabitação caótica dos musseques com os jovens edifícios "hightech", de incríveis prédios-colmeia com gruas e novas fundações, na decadência dos seus edifícios coloniais, intensamente habitados, usados, reciclados, Luanda é uma cidade mais interessante que a disciplinada Berlim.
O que faz de Luanda uma cidade mais interessante que Berlim? Não, seguramente, a chamada qualidade de vida, "qualidade devida" - na expressão de Luísa Schmidt.
O que faz de Luanda uma cidade mais interessante que Berlim é... a vida. Luanda é uma cidade vibrante, com um comércio febril (nos intermináveis engarrafamentos é possível comprar volantes de automóvel, grelhadores ou a versão local da "motorolla": sanduíches com pasta de atum ou outro recheio à escolha, montadas ali mesmo, aos olhos do cliente), uma cidade onde o presente é permanentemente reinventado, onde todos desenvolvem os seus expedientes à velocidade de uma procura sempre mutante, que é outra forma de dizer iniciativa.
Frenética iniciativa privada, em que se respira a urgência de um futuro que pode ser qualquer coisa de inesperado. Excitante.
Vinte anos depois do incêndio do Chiado, Lisboa, e a zona do Chiado em particular, é também interessante. E é interessante apesar de tão mal gerida. Em rigor, o que torna Lisboa uma cidade interessante acontece à revelia das (alegadas) políticas camarária, urbana, metropolitana. Três exemplos: a loja da Fnac fez mais pela revitalização do Chiado que os sensatos edifícios do erudito Siza Vieira, os precários bares da íngreme Bica ou o assimétrico multicolor dos imigrantes fazem mais pelo cosmopolitismo efervescente da cidade que os seus hotéis de "design" ou casas como a Hermès e a Cartier - cuja coexistência, há que reconhecê-lo, é boa.
Quero com isto dizer que dispensamos a boa gestão autárquica? Não. Quero dizer que uma cidade é muito mais que o seu desenho previdente. Que no início do século XXI temos já a obrigação de saber que o núcleo duro da vida das cidades escapa sempre por entre os dedos aos seus planos e às suas políticas. E que é na aguda consciência da complexidade das coisas que devemos operar.
Paula Moura Pinheiro (in Expresso)
Assim vai o mundo...
O mundo dos jornais...
A crónica sobre as férias do melhor cronista português...
Férias
São, em cada ano, o caminho aberto na floresta fechada dos dias. Amuleto e fetiche, causa das causas e consequência das consequências, tudo o que elas nos dão ou tiram fica inscrito na terra do nosso passado e no céu do nosso futuro. Partimos! Partimos para férias, e nessa partida há uma chegada ao nosso desejo e àquilo em que nele nos mudamos. Partimos para férias, querendo, de nós, levar apenas o que é leve e dúctil, deixando para trás o que é pesado e rígido. Partimos como se nos reerguêssemos da nossa sepultura interior, Lázaros de uma ressurreição solar e sagrada. Partimos para férias, como se elas nos dessem a chave da porta do castelo da infância, aquele onde escondíamos o nosso mundo encantado e os nossos segredos audaciosos. Partimos, e nessa partida há um cansaço descansado, feito de ansiedade de renovação e de memória de alegria.
Agora, fazemos as malas. Pomos nelas as roupas que nos restituem o corpo, qualquer que ele seja. Levamos aí os livros que queremos ler - e os que queremos voltar a não ler, pois, em anos anteriores, já por três vezes os levámos e por três vezes os negámos, não os abrindo. Pomos nelas as pequenas coisas dos grandes momentos e as grandes coisas dos pequenos momentos. Cada mala de férias é um gabinete de amador, uma caixa chinesa, uma "matrioska", um contador indo-português portátil. É uma ordem que, ao fim de uns dias, se transformou em caos. É o retrato instantâneo de uma disposição anunciada e de uma vontade traída. Lá vamos, com o dentro fora de nós e o fora dentro de nós. Vamos e, quando lá chegamos, somos nós que estamos à nossa espera!
As férias são o que são: pé a despegar-se do lodo da vida, mão a afastar o eixo do mundo. São o que são, porque nos dão um outro eu, um outro tempo, um outro espaço. Mesmo para os que ficam onde sempre estão, esse estar é outro. As férias são o fio de Ariadne que nos faz sair do labirinto dos dias e dos lugares habituais. E são o alimento que, anualmente, damos como tributo ao Minotauro para que não nos devore.
Chegamos, finalmente. Olhamos o mundo - ele é o espelho onde nos vemos. Respiramos a vida e o seu sopro selvagem. Estamos mais atentos e mais distraídos. Mais atentos aos fins, mais distraídos dos princípios. As nossas mãos acalmam-se imperceptivelmente, trocam a rapidez pela lentidão, repousam em tudo o que tocam - e há nelas uma música muda. Abrimos as portas, as janelas, os armários, as gavetas. Há sempre coisas a mais ou a menos! Nada cabe onde devia caber. Arrumamos o que trazemos, e tudo fica em equilíbrio instável. Mesmo em férias, o mundo não coincide connosco. Mas aquele vento que corre ao fim da tarde cobre todos os anseios e todos os receios.
Estamos. As férias são o tempo do grande sono. Dorme-se até tarde e dorme-se de tarde. Dorme-se um sono sem fronteiras, sem pressas, sem horas, sem limites. Dorme-se até ao fim do sono - até ao fim do sono em nós, até ao fim de nós no sono.
As férias são o tempo paradoxal da viagem e do amor. Vamos e vimos. Achamos e perdemos. Agarramos e deixamos. Lembramos e esquecemos. São o tempo da viagem do amor e do amor da viagem. São o tempo das ascensões e das quedas, dos ritmos extremos, sem meio: velozes ou vagarosos. São o tempo de um infinito de bolso.
As férias, na praia ou no campo, são um século XIX eterno, o tempo dos impressionistas e da natureza raptada. São o instante e a sua luz, o movimento e a sua paragem, o repouso e o seu silêncio, o mar e o seu brilho, o vento e a sua fuga, o verde e o seu sossego, a árvore e a sua sombra, a água e a sua frescura. São um Musée d'Orsay itinerante, com mais algumas salas da National Gallery e outras do Metropolitan Museum...
As férias são o tempo que se nos entrega a nós para que nos entreguemos a ele. Mas, porque há tempo para nos medirmos, são também, muitas vezes, os dias dos fantasmas, das cisões, das suspeitas, das crises, das saturações. Partimos para vir curados e regressamos ainda mais doentes.
Como quase tudo o que na vida chamamos nosso, as férias caminham para nós e apanham-nos de lado. São a nossa superstição anual. E, às vezes, a nossa obra-prima.
José Manuel dos Santos (in Expresso)
Assim vai o mundo...
Férias
São, em cada ano, o caminho aberto na floresta fechada dos dias. Amuleto e fetiche, causa das causas e consequência das consequências, tudo o que elas nos dão ou tiram fica inscrito na terra do nosso passado e no céu do nosso futuro. Partimos! Partimos para férias, e nessa partida há uma chegada ao nosso desejo e àquilo em que nele nos mudamos. Partimos para férias, querendo, de nós, levar apenas o que é leve e dúctil, deixando para trás o que é pesado e rígido. Partimos como se nos reerguêssemos da nossa sepultura interior, Lázaros de uma ressurreição solar e sagrada. Partimos para férias, como se elas nos dessem a chave da porta do castelo da infância, aquele onde escondíamos o nosso mundo encantado e os nossos segredos audaciosos. Partimos, e nessa partida há um cansaço descansado, feito de ansiedade de renovação e de memória de alegria.
Agora, fazemos as malas. Pomos nelas as roupas que nos restituem o corpo, qualquer que ele seja. Levamos aí os livros que queremos ler - e os que queremos voltar a não ler, pois, em anos anteriores, já por três vezes os levámos e por três vezes os negámos, não os abrindo. Pomos nelas as pequenas coisas dos grandes momentos e as grandes coisas dos pequenos momentos. Cada mala de férias é um gabinete de amador, uma caixa chinesa, uma "matrioska", um contador indo-português portátil. É uma ordem que, ao fim de uns dias, se transformou em caos. É o retrato instantâneo de uma disposição anunciada e de uma vontade traída. Lá vamos, com o dentro fora de nós e o fora dentro de nós. Vamos e, quando lá chegamos, somos nós que estamos à nossa espera!
As férias são o que são: pé a despegar-se do lodo da vida, mão a afastar o eixo do mundo. São o que são, porque nos dão um outro eu, um outro tempo, um outro espaço. Mesmo para os que ficam onde sempre estão, esse estar é outro. As férias são o fio de Ariadne que nos faz sair do labirinto dos dias e dos lugares habituais. E são o alimento que, anualmente, damos como tributo ao Minotauro para que não nos devore.
Chegamos, finalmente. Olhamos o mundo - ele é o espelho onde nos vemos. Respiramos a vida e o seu sopro selvagem. Estamos mais atentos e mais distraídos. Mais atentos aos fins, mais distraídos dos princípios. As nossas mãos acalmam-se imperceptivelmente, trocam a rapidez pela lentidão, repousam em tudo o que tocam - e há nelas uma música muda. Abrimos as portas, as janelas, os armários, as gavetas. Há sempre coisas a mais ou a menos! Nada cabe onde devia caber. Arrumamos o que trazemos, e tudo fica em equilíbrio instável. Mesmo em férias, o mundo não coincide connosco. Mas aquele vento que corre ao fim da tarde cobre todos os anseios e todos os receios.
Estamos. As férias são o tempo do grande sono. Dorme-se até tarde e dorme-se de tarde. Dorme-se um sono sem fronteiras, sem pressas, sem horas, sem limites. Dorme-se até ao fim do sono - até ao fim do sono em nós, até ao fim de nós no sono.
As férias são o tempo paradoxal da viagem e do amor. Vamos e vimos. Achamos e perdemos. Agarramos e deixamos. Lembramos e esquecemos. São o tempo da viagem do amor e do amor da viagem. São o tempo das ascensões e das quedas, dos ritmos extremos, sem meio: velozes ou vagarosos. São o tempo de um infinito de bolso.
As férias, na praia ou no campo, são um século XIX eterno, o tempo dos impressionistas e da natureza raptada. São o instante e a sua luz, o movimento e a sua paragem, o repouso e o seu silêncio, o mar e o seu brilho, o vento e a sua fuga, o verde e o seu sossego, a árvore e a sua sombra, a água e a sua frescura. São um Musée d'Orsay itinerante, com mais algumas salas da National Gallery e outras do Metropolitan Museum...
As férias são o tempo que se nos entrega a nós para que nos entreguemos a ele. Mas, porque há tempo para nos medirmos, são também, muitas vezes, os dias dos fantasmas, das cisões, das suspeitas, das crises, das saturações. Partimos para vir curados e regressamos ainda mais doentes.
Como quase tudo o que na vida chamamos nosso, as férias caminham para nós e apanham-nos de lado. São a nossa superstição anual. E, às vezes, a nossa obra-prima.
José Manuel dos Santos (in Expresso)
Assim vai o mundo...
sexta-feira, agosto 22, 2008
O mundo da comédia...
Foi com enorme surpresa que soube da morte de Bernie Mac... Um comediante fantástico, um actor seguro... Uma pneumonia levou um dos membros do Oceans Eleven... Uma perda...
Assim vai o mundo...
quinta-feira, agosto 21, 2008
O mundo olímpico...
Parabéns ao Nelson Évora e também à Vanessa Fernandes... No fim dos Jogos farei uma análise mais profunda a tudo isto...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
terça-feira, agosto 19, 2008
O mundo dos direitos...
A Sara é uma amiga que luta por aquilo em que acredita. Nos últimos anos tem-se dedicado a denunciar ao mundo, situações de violação de direitos humanos. Aqui está uma pequena versão do vídeo "Torcha Tibetana". Divulguem...
Assim vai o mundo..
Assim vai o mundo..
segunda-feira, agosto 18, 2008
quarta-feira, agosto 13, 2008
O mundo dos jornais...
Para mim o melhor cronista portugues: José Manuel dos Santos...
Aviso
Quando me levantei, olhei o céu e vi que ele traía o Verão: apagado, metálico, fatigado. E o mar estava sujo e fechado como um poço. No ontem daquele hoje tão triste, na face alta da noite cintilavam os astros puros a anunciar um amanhecer altivo. Mas tudo foi mudando. Pouco a pouco, as estrelas emudeceram, ausentaram-se, desistiram, falharam, deixando um rasto cego e uma vastidão vazia e escura. Um dia destes, no Inverno, é um acerto e uma aceitação. No Verão, este dia é um erro e uma sedição.
Quando olhei o céu, vi que a chuva ameaçava a nossa pouca vontade de a ter. Havia na atmosfera uma luminosidade viscosa, um cheiro oblíquo, um relâmpago baixo. Existia uma preguiça do sol, uma fuga do brilho, uma cobardia do clima, uma abdicação do tempo. Havia nódoas de sombra na luz e uma poeira de frio no ar. Como num Alcácer Quibir cósmico, o sol tentava avançar, mas era contido: acabou derrotado e desaparecido. Nesse hoje, havia um intervalo no calor, um tremor no dia, um Inverno de bolso dentro do Verão ardente.
Quando me levantei e vi o céu perdido para a alegria, pensei, aproximando-me daqueles que não renunciam inteiramente ao pensamento mágico, que assim é muitas vezes a vida: móvel, imprevista, mutável, inesperada, abrupta. Nós é que fazemos tudo para esquecer essa ameaça, tornando-a regular, reles e rotineira. Mas, a cada passo que damos sobre o chão da vida, ele pode abrir-se debaixo dos pés. É por aí que tantas vezes nos sumimos, perante os nossos olhos surpreendidos e assustados. Hoje, o dia estava nublado e tudo morria um pouco em nós. Era como se o céu fosse assim para nos lembrar que nada está para sempre dado, adquirido ou salvo. Aquelas nuvens longas, largas e lentas eram a bandeira de uma rendição, a pedra de armas de um palácio em ruínas.
Na Antiga Grécia, em Éfeso, na Jónia, seis séculos antes de Cristo, Heraclito, olhando o rio e o seu correr contínuo, declarou: "Tudo flui" e "nada permanece, senão a mudança". Vendo que "a natureza gosta de se esconder", falou da guerra e da paz dos opostos, do seu conflito e da sua unidade, afirmando que cada coisa é gerada no seu contrário: a morte na vida, o frio no calor, a beleza na fealdade, a doença na saúde, a fadiga no repouso, a saciedade na fome. Assim, o ser gera o devir, pois esse é o ser do ser. Heraclito travou um combate de contrários com Parménides, aquele que, em Eléia, escutando o silêncio que há por detrás do barulho, defendia que "o ser é e não muda", pois "toda a mudança é ilusão". Afinal, se for verdade aquilo em que Heraclito acreditava, talvez os dois, tão inversos um do outro, estivessem mais ligados do que pensavam.
Quando criam, os artistas fazem uma travessia, ora lenta, ora rápida, pelo mar dos opostos: passam da sombra à luz, do impreciso ao nítido, do informe à forma, do inconsciente ao consciente, do vulgar ao sublime, do esquecimento à memória. E sabem que o caminho que sobe também é o caminho que desce. A passagem inesperada do Verão ao Inverno e do Inverno ao Verão é uma alegoria e um aviso. Nessas passagens súbitas e nos seus desvãos habita a mais pesada leveza, a mais escura claridade, a mais veloz lentidão, a mais firme hesitação. Poucos como Camilo Pessanha captaram essas mudanças subtis, essas trocas de estação, esses sinais de passagem, esses clamores do silêncio, esses erros da natureza. Diz ele: "Floriram por engano as rosas bravas/ No Inverno veio o vento desfolhá-las.../ Em que cismas, meu bem? Porque me calas/ As vozes com que há pouco me enganavas?" E raros como Cesário Verde cobriram a distância entre os tempos e os espaços, num salto em que o Verão do mundo gera o Inverno da alma: "Foi quando em dois verões seguidamente a Febre/ E a Cólera também andaram na cidade,/ Que esta população, com um terror de lebre,/ Fugiu da capital como da tempestade." E assim tudo se torna o que não é.
Assim vai o mundo...
Aviso
Quando me levantei, olhei o céu e vi que ele traía o Verão: apagado, metálico, fatigado. E o mar estava sujo e fechado como um poço. No ontem daquele hoje tão triste, na face alta da noite cintilavam os astros puros a anunciar um amanhecer altivo. Mas tudo foi mudando. Pouco a pouco, as estrelas emudeceram, ausentaram-se, desistiram, falharam, deixando um rasto cego e uma vastidão vazia e escura. Um dia destes, no Inverno, é um acerto e uma aceitação. No Verão, este dia é um erro e uma sedição.
Quando olhei o céu, vi que a chuva ameaçava a nossa pouca vontade de a ter. Havia na atmosfera uma luminosidade viscosa, um cheiro oblíquo, um relâmpago baixo. Existia uma preguiça do sol, uma fuga do brilho, uma cobardia do clima, uma abdicação do tempo. Havia nódoas de sombra na luz e uma poeira de frio no ar. Como num Alcácer Quibir cósmico, o sol tentava avançar, mas era contido: acabou derrotado e desaparecido. Nesse hoje, havia um intervalo no calor, um tremor no dia, um Inverno de bolso dentro do Verão ardente.
Quando me levantei e vi o céu perdido para a alegria, pensei, aproximando-me daqueles que não renunciam inteiramente ao pensamento mágico, que assim é muitas vezes a vida: móvel, imprevista, mutável, inesperada, abrupta. Nós é que fazemos tudo para esquecer essa ameaça, tornando-a regular, reles e rotineira. Mas, a cada passo que damos sobre o chão da vida, ele pode abrir-se debaixo dos pés. É por aí que tantas vezes nos sumimos, perante os nossos olhos surpreendidos e assustados. Hoje, o dia estava nublado e tudo morria um pouco em nós. Era como se o céu fosse assim para nos lembrar que nada está para sempre dado, adquirido ou salvo. Aquelas nuvens longas, largas e lentas eram a bandeira de uma rendição, a pedra de armas de um palácio em ruínas.
Na Antiga Grécia, em Éfeso, na Jónia, seis séculos antes de Cristo, Heraclito, olhando o rio e o seu correr contínuo, declarou: "Tudo flui" e "nada permanece, senão a mudança". Vendo que "a natureza gosta de se esconder", falou da guerra e da paz dos opostos, do seu conflito e da sua unidade, afirmando que cada coisa é gerada no seu contrário: a morte na vida, o frio no calor, a beleza na fealdade, a doença na saúde, a fadiga no repouso, a saciedade na fome. Assim, o ser gera o devir, pois esse é o ser do ser. Heraclito travou um combate de contrários com Parménides, aquele que, em Eléia, escutando o silêncio que há por detrás do barulho, defendia que "o ser é e não muda", pois "toda a mudança é ilusão". Afinal, se for verdade aquilo em que Heraclito acreditava, talvez os dois, tão inversos um do outro, estivessem mais ligados do que pensavam.
Quando criam, os artistas fazem uma travessia, ora lenta, ora rápida, pelo mar dos opostos: passam da sombra à luz, do impreciso ao nítido, do informe à forma, do inconsciente ao consciente, do vulgar ao sublime, do esquecimento à memória. E sabem que o caminho que sobe também é o caminho que desce. A passagem inesperada do Verão ao Inverno e do Inverno ao Verão é uma alegoria e um aviso. Nessas passagens súbitas e nos seus desvãos habita a mais pesada leveza, a mais escura claridade, a mais veloz lentidão, a mais firme hesitação. Poucos como Camilo Pessanha captaram essas mudanças subtis, essas trocas de estação, esses sinais de passagem, esses clamores do silêncio, esses erros da natureza. Diz ele: "Floriram por engano as rosas bravas/ No Inverno veio o vento desfolhá-las.../ Em que cismas, meu bem? Porque me calas/ As vozes com que há pouco me enganavas?" E raros como Cesário Verde cobriram a distância entre os tempos e os espaços, num salto em que o Verão do mundo gera o Inverno da alma: "Foi quando em dois verões seguidamente a Febre/ E a Cólera também andaram na cidade,/ Que esta população, com um terror de lebre,/ Fugiu da capital como da tempestade." E assim tudo se torna o que não é.
Assim vai o mundo...
O mundo da música...
Morreu.. Deixará saudades, mas a sua música existe para sempre...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
sábado, agosto 09, 2008
sexta-feira, agosto 08, 2008
O mundo português...
O assalto transformado em sequestro de ontem veio trazer a público alguns debates. É absurdo estar a dizer que todos os brasileiros são criminosos mas é óbvio que o facto de alguns imigrantes poderem estar ilegais e sem condições de vida, pode torna-los criminosos. A actuação da polícia foi a possível. Não sou a favor que as forças de autoridades matem por matar mas quando há reféns e armas, sou completamente a favor do uso da força. Tenho pena, mas as pessoas que decidem cometer um crime em que põe em risco outras pessoas, deixo de conseguir colocar-me no lugar deles...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
O mundo dos filmes..
Gosto muito de filmes de assaltos! E este Italian Job é um bom filme de assaltos...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
O mundo Olímpico...
Começam hoje oficialmente os Jogos Olímpicos. Como amante de desporto, seguirei tudo que puder. Para já a Cerimónia de Abertura! Mostra o que é a China: inúmeras pessoas e uma mecanização impressionante. Foi obviamente um espectáculo deslumbrante. Aliás, parece que a cada nova edição os países tem de superar o anterior. Depois há momentos que ficam para sempre. Lembro-me de dois: Misha, a mascote de 1980 que chorou na despedida e pôs toda a gente a chorar; e quando a chama olímpica foi acesa em Barcelona 92 com uma flecha em chamas...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
quinta-feira, agosto 07, 2008
O mundo da política...
Neste pequeno texto, José Cutileiro, um dos nossos melhores embaixadores de sempre, explica um pouco dos EUA e seus presidentes...
O homem mais poderoso do mundo
Os americanos são o único povo sobre a face da terra convencido de que o Criador lhes deu o direito à felicidade. Vem logo no começo da declaração de independência de 1776 e, até agora, ainda disso se não desimaginaram: sempre que críticos de fora ou raros pessimistas locais julgaram que, depois de bordoada grossa, dessa vez eles se iriam levantar do tapete com a crista murcha e sem sangue na guelra, os críticos enganaram-se. Neste nosso tempo, depois de sete anos e meio de George W. Bush, começados com fanfarra e acabados em desastre (duas guerras caras e impopulares, sem fim - quanto mais vitória... - à vista, uma crise financeira que ameaça meter num chinelo o grande "crash" de 1929, a imagem da América no resto do mundo anda pelas ruas da amargura) parecerem ter dado conta do gigante enquanto as economias de China e Índia crescem como bambus e a Rússia, a boiar num mar de petróleo e gás, arrota postas de pescada, de repente, da Califórnia a Massachusetts, de Montana ao Texas rompeu do fundo das almas um vendaval de esperança que fez das primárias presidenciais espectáculo de vigor moral e político de que me não lembro igual em regimes democráticos estabelecidos. (É mais costume encontrar fé inabalável na democracia em lugares onde esta não tenha chegado ainda: por exemplo, nas primeiras eleições gerais livres da África do Sul em 1994; no referendo da independência de Timor-Leste em 1999).
Atordoado por uma sucessão de infortúnios o país precisava de ressuscitar a crença na felicidade sobre a terra, de encontrar quem o fizesse sonhar outra vez. Acontece-lhe ciclicamente; no século passado em 1932, quando elegeu Franklin D. Roosevelt que morreu de morte natural já no quarto mandato e tinha derrotado Hitler; em 1960, quando elegeu John F. Kennedy que foi assassinado três anos depois mas deixou mito revigorante que ainda dura; e em 1980, quando elegeu Ronald Reagan que nos dois mandatos que a lei lhe consentia curou os Estados Unidos do traumatismo do Vietname e ganhou a Guerra Fria.
Agora, quando se julgava que Hillary Clinton iria ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, surgiu Barack Obama, de pai queniano e mãe nascida no Kansas, formado por Harvard e único senador negro em Washington. Uma vaga de 'obamomania' cobriu a América e o mundo.
Sondagens mostram que, se fosse o mundo a votar, Obama seria sem dúvida o próximo inquilino da Casa Branca mas quem vota são os americanos, que estão muito mais divididos a esse respeito do que os europeus. Os sonhos da América profunda nem sempre parecem coincidir com os altos ideais e a visão do senador cosmopolita de Illinois.
Se Barack Obama ganhar a John McCain em Novembro é difícil prever que presidente dará. O homem é eloquente e bom político; numas coisas tem ideias excelentes, noutras más, noutras ainda não parece ter nenhumas. Com sorte poderá sair-nos na rifa um novo Ronald Reagan; com azar, uma espécie de Jimmy Carter com tese de doutoramento. (in Expresso)
Assim vai o mundo..
O homem mais poderoso do mundo
Os americanos são o único povo sobre a face da terra convencido de que o Criador lhes deu o direito à felicidade. Vem logo no começo da declaração de independência de 1776 e, até agora, ainda disso se não desimaginaram: sempre que críticos de fora ou raros pessimistas locais julgaram que, depois de bordoada grossa, dessa vez eles se iriam levantar do tapete com a crista murcha e sem sangue na guelra, os críticos enganaram-se. Neste nosso tempo, depois de sete anos e meio de George W. Bush, começados com fanfarra e acabados em desastre (duas guerras caras e impopulares, sem fim - quanto mais vitória... - à vista, uma crise financeira que ameaça meter num chinelo o grande "crash" de 1929, a imagem da América no resto do mundo anda pelas ruas da amargura) parecerem ter dado conta do gigante enquanto as economias de China e Índia crescem como bambus e a Rússia, a boiar num mar de petróleo e gás, arrota postas de pescada, de repente, da Califórnia a Massachusetts, de Montana ao Texas rompeu do fundo das almas um vendaval de esperança que fez das primárias presidenciais espectáculo de vigor moral e político de que me não lembro igual em regimes democráticos estabelecidos. (É mais costume encontrar fé inabalável na democracia em lugares onde esta não tenha chegado ainda: por exemplo, nas primeiras eleições gerais livres da África do Sul em 1994; no referendo da independência de Timor-Leste em 1999).
Atordoado por uma sucessão de infortúnios o país precisava de ressuscitar a crença na felicidade sobre a terra, de encontrar quem o fizesse sonhar outra vez. Acontece-lhe ciclicamente; no século passado em 1932, quando elegeu Franklin D. Roosevelt que morreu de morte natural já no quarto mandato e tinha derrotado Hitler; em 1960, quando elegeu John F. Kennedy que foi assassinado três anos depois mas deixou mito revigorante que ainda dura; e em 1980, quando elegeu Ronald Reagan que nos dois mandatos que a lei lhe consentia curou os Estados Unidos do traumatismo do Vietname e ganhou a Guerra Fria.
Agora, quando se julgava que Hillary Clinton iria ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, surgiu Barack Obama, de pai queniano e mãe nascida no Kansas, formado por Harvard e único senador negro em Washington. Uma vaga de 'obamomania' cobriu a América e o mundo.
Sondagens mostram que, se fosse o mundo a votar, Obama seria sem dúvida o próximo inquilino da Casa Branca mas quem vota são os americanos, que estão muito mais divididos a esse respeito do que os europeus. Os sonhos da América profunda nem sempre parecem coincidir com os altos ideais e a visão do senador cosmopolita de Illinois.
Se Barack Obama ganhar a John McCain em Novembro é difícil prever que presidente dará. O homem é eloquente e bom político; numas coisas tem ideias excelentes, noutras más, noutras ainda não parece ter nenhumas. Com sorte poderá sair-nos na rifa um novo Ronald Reagan; com azar, uma espécie de Jimmy Carter com tese de doutoramento. (in Expresso)
Assim vai o mundo..
quarta-feira, agosto 06, 2008
O mundo da música...
Bill Withers é conhecido pela música Ain't no sunshine when she's gone, mas este tributo à sua avó é belissimo. Aqui fica Grandma's hands..
Grandma's hands
Clapped in church on Sunday morning
Grandma's hands
Played a tambourine so well
Grandma's hands
Used to issue out a warning
She'd say, "Billy don't you run so fast
Might fall on a piece of glass
"Might be snakes there in that grass"
Grandma's hands
Grandma's hands
Soothed a local unwed mother
Grandma's hands
Used to ache sometimes and swell
Grandma's hands
Used to lift her face and tell her,
"Baby, Grandma understands
That you really love that man
Put yourself in Jesus hands"
Grandma's hands
Grandma's hands
Used to hand me piece of candy
Grandma's hands
Picked me up each time I fell
Grandma's hands
Boy, they really came in handy
She'd say, "Matty don' you whip that boy
What you want to spank him for?
He didn' drop no apple core"
But I don't have Grandma anymore
If I get to Heaven I'll look for
Grandma's hands
Assim vai o mundo...
Grandma's hands
Clapped in church on Sunday morning
Grandma's hands
Played a tambourine so well
Grandma's hands
Used to issue out a warning
She'd say, "Billy don't you run so fast
Might fall on a piece of glass
"Might be snakes there in that grass"
Grandma's hands
Grandma's hands
Soothed a local unwed mother
Grandma's hands
Used to ache sometimes and swell
Grandma's hands
Used to lift her face and tell her,
"Baby, Grandma understands
That you really love that man
Put yourself in Jesus hands"
Grandma's hands
Grandma's hands
Used to hand me piece of candy
Grandma's hands
Picked me up each time I fell
Grandma's hands
Boy, they really came in handy
She'd say, "Matty don' you whip that boy
What you want to spank him for?
He didn' drop no apple core"
But I don't have Grandma anymore
If I get to Heaven I'll look for
Grandma's hands
Assim vai o mundo...
terça-feira, agosto 05, 2008
O mundo português...
A notícia das massagens já era parva, mas esta ainda é pior...
É proibido distribuir maçãs nas praias algarvias
Terceira proibição em menos de um mês pelo comandante Reis Ágoas
Soma e segue. Reis Ágoas, comandante da zona marítima do Algarve, em menos de um mês proibiu a pratica do kitesurf e windsurf na Ria Formosa, massagens comerciais nas praias, e agora, a distribuição de maçãs também nas praias algarvias.
A notícia avançada pela TSF, que cita o Correio da Manhã desta terça-feira, diz que Reis Águas considera que a iniciativa da Fundação Portuguesa de Cardiologia e da Associação de Produtores de Alcobaça não passa de publicidade.
A associação estava a distribuir maçãs gratuitamente como o fez em 2007 em praias de Aveiro e Lisboa. O presidente da associação, Jorge Soares, diz que o objectivo da acção era o de sensibilizar para os benefícios de comer maçãs.
Esta acção, um projecto em parceria com a Comissão Europeia e o ministério da agricultura, tinha como objectivo combater a obesidade.
No entanto um porta-voz da Marinha considerou à TSF via comunicado, que o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Vilamoura-Vila Real de Santo António proíbe todas as actividades de marketing e publicidade nas áreas concessionadas.
O porta-voz acrescenta que este tipo de campanhas causam incómodos aos utentes e provocam conflitos com os outros usos próprios das praias. (visto aqui)
Assim vai o mundo...
É proibido distribuir maçãs nas praias algarvias
Terceira proibição em menos de um mês pelo comandante Reis Ágoas
Soma e segue. Reis Ágoas, comandante da zona marítima do Algarve, em menos de um mês proibiu a pratica do kitesurf e windsurf na Ria Formosa, massagens comerciais nas praias, e agora, a distribuição de maçãs também nas praias algarvias.
A notícia avançada pela TSF, que cita o Correio da Manhã desta terça-feira, diz que Reis Águas considera que a iniciativa da Fundação Portuguesa de Cardiologia e da Associação de Produtores de Alcobaça não passa de publicidade.
A associação estava a distribuir maçãs gratuitamente como o fez em 2007 em praias de Aveiro e Lisboa. O presidente da associação, Jorge Soares, diz que o objectivo da acção era o de sensibilizar para os benefícios de comer maçãs.
Esta acção, um projecto em parceria com a Comissão Europeia e o ministério da agricultura, tinha como objectivo combater a obesidade.
No entanto um porta-voz da Marinha considerou à TSF via comunicado, que o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Vilamoura-Vila Real de Santo António proíbe todas as actividades de marketing e publicidade nas áreas concessionadas.
O porta-voz acrescenta que este tipo de campanhas causam incómodos aos utentes e provocam conflitos com os outros usos próprios das praias. (visto aqui)
Assim vai o mundo...
segunda-feira, agosto 04, 2008
O mundo do cinema...
Que má notícia li agora na LUSA...
O actor norte-americano Morgan Freeman, 71 anos, vencedor de um Óscar, encontra-se hospitalizado em Memphis em consequência de um acidente de viação no Mississipi.
Kathy Stringer, porta-voz do Centro Médico Regional, precisou que o actor se encontra em estado grave.
Ashley Norris, gerente do Ground Zero Blues Club, em Clarksdale, de que Freeman é proprietário, confirmou que o actor se encontra em estado crítico.
O acidente terá ocorrido em Tallahatchie County, no Mississipi.
Freeman recebeu o Óscar para Melhor Actor pelo seu desempenho em "Million dolar baby - Sonhos vencidos", de Clint Eastwood, em 2005.
O actor tinha sido já convidado por Eastwood para encarnar a figura do ex-Presidente sul-africano Nelson Mandela, num filme sobre a sua vida que deveria começar a ser rodado no início do próximo ano, intitulado "The human factor".
Assim vai o mundo...
O actor norte-americano Morgan Freeman, 71 anos, vencedor de um Óscar, encontra-se hospitalizado em Memphis em consequência de um acidente de viação no Mississipi.
Kathy Stringer, porta-voz do Centro Médico Regional, precisou que o actor se encontra em estado grave.
Ashley Norris, gerente do Ground Zero Blues Club, em Clarksdale, de que Freeman é proprietário, confirmou que o actor se encontra em estado crítico.
O acidente terá ocorrido em Tallahatchie County, no Mississipi.
Freeman recebeu o Óscar para Melhor Actor pelo seu desempenho em "Million dolar baby - Sonhos vencidos", de Clint Eastwood, em 2005.
O actor tinha sido já convidado por Eastwood para encarnar a figura do ex-Presidente sul-africano Nelson Mandela, num filme sobre a sua vida que deveria começar a ser rodado no início do próximo ano, intitulado "The human factor".
Assim vai o mundo...
O mundo das letras...
Morreu mais um Nobel de quem não conheço a escrita...
O escritor russo Alexandre Soljenitsyne, de 89 anos, figura maior da dissidência ao regime soviético e Prémio Nobel da Literatura (1970), morreu ontem à noite em Moscovo, anunciou a agência Itar-Tass, citando o seu filho, Stepan. O funeral realiza-se quarta-feira no cemitério do mosteiro Donskoi, em Moscovo.
Alexandre Soljenitsyne morreu "em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda", domingo, às 23h45 (hora local), declarou o seu filho, citado pela mesma agência.
O Presidente russo Dmitri Medvedev exprimiu as suas condolências à família do escritor, anunciou a sua porta-voz Natalia Timakova, citada pela mesma agência.
Alexandre Soljenitsyne revelou ao mundo a terrível realidade dos campos de concentração soviéticos em obras como "Arquipélago Gulag" e "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", que o escritor viveu na pele.
Prémio Nobel da Literatura em 1970, Soljenitsyne foi privado da sua cidadania soviética em 1974 e expulso da ex-URSS. Viveu na Alemanha, Suíça e Estados Unidos, antes de regressar à Rússia, em 1994, após o desmantelamento da União Soviética.
"No fim da minha vida, espero que o material histórico (...) que eu recolhi entre nas consciências e na memória dos meus compatriotas", disse o escritor em 2007 por altura da atribuição do prestigioso Prémio de Estado russo, atribuído pelo ex-Presidente e actual primeiro-ministro russo Vladimir Putin, que já indicou a morte de Soljenitsyne foi "uma grande perda para toda a Rússia".
"Estamos orgulhosos de o ter tido como compatriota e contemporâneo", declarou Putin. "Vamo-nos lembrar dele como uma personalidade forte, corajosa, de uma grande dignidade", acrescentou o primeiro-ministro, dirigindo um telegrama de condolências à família do escritor. "O seu compromisso literário e cívico, o seu longo e espinhoso destino permanecerão para nós como um exemplo de autêntica abnegação, ao serviço do povo, da Pátria, dos ideais de liberdade, justiça e humanidade", acrescentou.
O antigo Presidente soviético, Mikhail Gorbatchev, também indicou hoje que Soljenitsyne foi "um homem com um destino único" que foi um dos primeiros a "denunciar em voz alta o carácter desumano do regime estalinista". "Alexandre Soljenitsyne enfrentou provas difíceis, como milhões de cidadãos do seu país", declarou o pai da "Perestroïka" à agência russa Interfax.
Distinguido com o Nobel, não foi a Estocolmo recebê-lo
Nascido a 11 de Dezembro de 1918 no Cáucaso, Soljenitsyne aderiu aos ideais revolucionário bolcheviques daquele tempo, estudou Matemática e tomou parte como artilheiro na II Guerra Mundial, contra o III Reich.
Dos campos de batalha, em 1941, aos campos de concentração, em 1945, foi um passo, por ter ousado criticar a competência bélica do ditador Estaline.
Libertado em 1953, foi exilado para a Ásia Central, onde começou a escrever, viajando depois para Riazan, a duas centenas de quilómetros de Moscovo, para ser professor.
O sucessor de Estaline, Nikita Khrutchev, deu "luz verde" à publicação - na revista "Novy Mir" - de "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", relato do quotidiano de um recluso nos gulag, editado a 18 de Novembro de 1962.
Uma onda de choque sacudiu a Rússia e a comunidade internacional, que abriu os olhos para uma realidade até então desconhecida. Tinha caído um tabu.
Soljenitsyne continuou a escrever, mas livros como "O Pavilhãos dos Cancerosos", ou "O Primeiro Círculo", tiveram de ser publicados clandestinamente e no estrangeiro.
O Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 1970, mas declinou ir recebê-lo a Estocolmo com receio de não poder regressar à Rússia, então sob o pulso de Brejnev.
Uma nova vaga de entusismo varreu o mundo, para fúria do Kremlin, que expulsou Soljenitsyne para o Ocidente, tendo-se radicado finalmente em Vermont, nos EUA.
Os ocidentais reparam entretanto que Soljenitsyne era um conservador ortodoxo e defensor acérrimo da cultura eslava, muito duro para com a sociedade de consumo.
Em 1994 voltou à Rússia e espantou toda a gente ao aprovar a segunda guerra na Tchetchénia desencadeada por Ieltsin, pedindo a pena de morte para os independentistas.
Aproximou-se depois do Presidente Vladimir Putin, louvando publicamente as suas qualidades. (in Público)
Assim vai o mundo...
O escritor russo Alexandre Soljenitsyne, de 89 anos, figura maior da dissidência ao regime soviético e Prémio Nobel da Literatura (1970), morreu ontem à noite em Moscovo, anunciou a agência Itar-Tass, citando o seu filho, Stepan. O funeral realiza-se quarta-feira no cemitério do mosteiro Donskoi, em Moscovo.
Alexandre Soljenitsyne morreu "em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda", domingo, às 23h45 (hora local), declarou o seu filho, citado pela mesma agência.
O Presidente russo Dmitri Medvedev exprimiu as suas condolências à família do escritor, anunciou a sua porta-voz Natalia Timakova, citada pela mesma agência.
Alexandre Soljenitsyne revelou ao mundo a terrível realidade dos campos de concentração soviéticos em obras como "Arquipélago Gulag" e "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", que o escritor viveu na pele.
Prémio Nobel da Literatura em 1970, Soljenitsyne foi privado da sua cidadania soviética em 1974 e expulso da ex-URSS. Viveu na Alemanha, Suíça e Estados Unidos, antes de regressar à Rússia, em 1994, após o desmantelamento da União Soviética.
"No fim da minha vida, espero que o material histórico (...) que eu recolhi entre nas consciências e na memória dos meus compatriotas", disse o escritor em 2007 por altura da atribuição do prestigioso Prémio de Estado russo, atribuído pelo ex-Presidente e actual primeiro-ministro russo Vladimir Putin, que já indicou a morte de Soljenitsyne foi "uma grande perda para toda a Rússia".
"Estamos orgulhosos de o ter tido como compatriota e contemporâneo", declarou Putin. "Vamo-nos lembrar dele como uma personalidade forte, corajosa, de uma grande dignidade", acrescentou o primeiro-ministro, dirigindo um telegrama de condolências à família do escritor. "O seu compromisso literário e cívico, o seu longo e espinhoso destino permanecerão para nós como um exemplo de autêntica abnegação, ao serviço do povo, da Pátria, dos ideais de liberdade, justiça e humanidade", acrescentou.
O antigo Presidente soviético, Mikhail Gorbatchev, também indicou hoje que Soljenitsyne foi "um homem com um destino único" que foi um dos primeiros a "denunciar em voz alta o carácter desumano do regime estalinista". "Alexandre Soljenitsyne enfrentou provas difíceis, como milhões de cidadãos do seu país", declarou o pai da "Perestroïka" à agência russa Interfax.
Distinguido com o Nobel, não foi a Estocolmo recebê-lo
Nascido a 11 de Dezembro de 1918 no Cáucaso, Soljenitsyne aderiu aos ideais revolucionário bolcheviques daquele tempo, estudou Matemática e tomou parte como artilheiro na II Guerra Mundial, contra o III Reich.
Dos campos de batalha, em 1941, aos campos de concentração, em 1945, foi um passo, por ter ousado criticar a competência bélica do ditador Estaline.
Libertado em 1953, foi exilado para a Ásia Central, onde começou a escrever, viajando depois para Riazan, a duas centenas de quilómetros de Moscovo, para ser professor.
O sucessor de Estaline, Nikita Khrutchev, deu "luz verde" à publicação - na revista "Novy Mir" - de "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", relato do quotidiano de um recluso nos gulag, editado a 18 de Novembro de 1962.
Uma onda de choque sacudiu a Rússia e a comunidade internacional, que abriu os olhos para uma realidade até então desconhecida. Tinha caído um tabu.
Soljenitsyne continuou a escrever, mas livros como "O Pavilhãos dos Cancerosos", ou "O Primeiro Círculo", tiveram de ser publicados clandestinamente e no estrangeiro.
O Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 1970, mas declinou ir recebê-lo a Estocolmo com receio de não poder regressar à Rússia, então sob o pulso de Brejnev.
Uma nova vaga de entusismo varreu o mundo, para fúria do Kremlin, que expulsou Soljenitsyne para o Ocidente, tendo-se radicado finalmente em Vermont, nos EUA.
Os ocidentais reparam entretanto que Soljenitsyne era um conservador ortodoxo e defensor acérrimo da cultura eslava, muito duro para com a sociedade de consumo.
Em 1994 voltou à Rússia e espantou toda a gente ao aprovar a segunda guerra na Tchetchénia desencadeada por Ieltsin, pedindo a pena de morte para os independentistas.
Aproximou-se depois do Presidente Vladimir Putin, louvando publicamente as suas qualidades. (in Público)
Assim vai o mundo...
O mundo dos jornais...
Tenho um fascínio pelo fogo! Talvez por ser o meu elemento natural. Um dia destes falo sobre isto, mas hoje deixo José Manual dos Santos falar sobre ele...
Fogo
Perto de minha casa, havia aquele prédio imenso, multiplicado em várias portas. Numa delas, estava o alfaiate onde o meu pai mandava fazer os fatos. Eu acompanhava-o às provas: várias, longas e metódicas. Na primeira, conferiam-se as formas e os tamanhos. Na segunda, faziam-se os ajustamentos e passava-se aos pormenores, onde dizem que Deus acaba e o diabo começa. Ensaiava-se com exactidão o alcance das mangas (o punho da camisa tinha de se ver, mas não muito) e o cair da gola. Isso era o mais difícil: a gola não podia ficar nem muito subida nem muito descida. A procura desse meio termo aristotelicamente virtuoso demorava tempo e exigia gramática. Quero eu dizer: interjeições e interrogações. E o modo como o casaco caía nas costas era também o principal. O alfaiate, quando fiz o meu primeiro fato, ainda com calções até aos joelhos, pediu-me, mas como se me repreendesse, para me pôr direito e não levantar os ombros.
Ao lado do alfaiate, era a ourivesaria. A minha mãe gostava de lá ir. De comprar o que se lá vendia e de conversar com a senhora que, com modos corteses e medidos, passava o peso do ouro das suas mãos para as mãos das visitantes, recebendo em troca notas que a faziam sorrir e ser gentil. A senhora era subtil e falava da vida como se contasse um segredo. Hoje, sei que a minha mãe procurava ali um outro ouro, mais leve e mais fugaz do que aquele: o ouro do tempo, de que falava Breton ("Je cherche l'or du temps").
Foi nesse prédio a minha primeira escola. Irrequieto e curioso, os meus pais acharam que, mesmo dois anos antes do que seria normal, era bom - para mim e para eles - eu ir para essa aula particular onde a professora aceitava alunos antes da idade legal. Tinha ela métodos infalíveis para nos ensinar a ler, a escrever e a contar. A sentença imutável e sem recurso era: cada erro, cada reguada. Eu deixei de os dar para as deixar de apanhar. Quando fiz 6 anos e entrei, noutra escola, para a primeira classe, a professora que me recebeu surpreendia-se com a minha sabedoria, sem conseguir achar a razão do prodígio... Se fosse hoje, mandava-me para os psicólogos que acompanham os sobredotados. Por desconhecimento de causa, teria cometido um grave engano...
Havia aquele prédio da minha primeira escola e das minhas primeiras lojas. Numa tarde de Agosto, quando regressava a casa, fui arrebatado por um vento vermelho que crescia e crescia e crescia. O prédio ardia: ardeu até se negar. Eu já tinha visto incêndios, mas nenhum de tão perto e nenhum tão indomável. Os bombeiros levantavam-se sobre eles próprios, exaustos e enraivecidos. Corriam, mas era como se estivessem parados. Os moradores daquelas casas extintas, ao verem que ficavam apenas com a roupa que tinham no corpo, abriam a boca e gritavam para dentro deles e para dentro de nós um desespero mais puro e mais alto do que as chamas. Esses gritos, atirados à noite trémula e iluminada, ficaram para mim como a prova de que os homens se tornam deuses e animais no perigo. Deuses, porque querem morrer e não conseguem. Animais, porque os seus uivos são selvagens, contínuos e sem vergonha.
As horas sucediam-se como reis de uma dinastia louca, e o fogo continuava a devorar tudo, atravessando o nosso pânico e quase chegando à nossa casa. Passei a noite a olhar, assombrado, o oscilar daquela treva de luz, o correr daquela caligrafia incandescente, alta e destruidora. Nas noites seguintes, era como se não conseguisse fechar os olhos, pois sonhava que eles continuavam abertos. Ali fiquei, enquanto as cinzas não trouxeram a madrugada. Ali escutei, aterrado, aqueles gritos subumanos e nus. Durante muitos meses, era como se os meus ouvidos ainda estivessem num lugar diferente daquele onde eu estava.
O fogo atravessa, inextinguível, todas as mitologias e todas as literaturas. Gaston Bechelard, em A Psicanálise do Fogo, procura explicar essa persistência, falando de três complexos: o de Prometeu (que ele diz ser o Édipo da vida intelectual), de Empédocles e de Novalis. E diz que o fogo liga os dois grandes instintos, o de viver e o de morrer. Cada artista, cada cientista, cada escritor trabalha o fogo ou a sua ausência. É um pirómano em fuga: ladrão do fogo e seu adorador. Por isso, quando perguntaram a Jean Cocteau o que salvaria se a sua casa ardesse, ele respondeu: o fogo.
Assim vai o mundo...
Fogo
Perto de minha casa, havia aquele prédio imenso, multiplicado em várias portas. Numa delas, estava o alfaiate onde o meu pai mandava fazer os fatos. Eu acompanhava-o às provas: várias, longas e metódicas. Na primeira, conferiam-se as formas e os tamanhos. Na segunda, faziam-se os ajustamentos e passava-se aos pormenores, onde dizem que Deus acaba e o diabo começa. Ensaiava-se com exactidão o alcance das mangas (o punho da camisa tinha de se ver, mas não muito) e o cair da gola. Isso era o mais difícil: a gola não podia ficar nem muito subida nem muito descida. A procura desse meio termo aristotelicamente virtuoso demorava tempo e exigia gramática. Quero eu dizer: interjeições e interrogações. E o modo como o casaco caía nas costas era também o principal. O alfaiate, quando fiz o meu primeiro fato, ainda com calções até aos joelhos, pediu-me, mas como se me repreendesse, para me pôr direito e não levantar os ombros.
Ao lado do alfaiate, era a ourivesaria. A minha mãe gostava de lá ir. De comprar o que se lá vendia e de conversar com a senhora que, com modos corteses e medidos, passava o peso do ouro das suas mãos para as mãos das visitantes, recebendo em troca notas que a faziam sorrir e ser gentil. A senhora era subtil e falava da vida como se contasse um segredo. Hoje, sei que a minha mãe procurava ali um outro ouro, mais leve e mais fugaz do que aquele: o ouro do tempo, de que falava Breton ("Je cherche l'or du temps").
Foi nesse prédio a minha primeira escola. Irrequieto e curioso, os meus pais acharam que, mesmo dois anos antes do que seria normal, era bom - para mim e para eles - eu ir para essa aula particular onde a professora aceitava alunos antes da idade legal. Tinha ela métodos infalíveis para nos ensinar a ler, a escrever e a contar. A sentença imutável e sem recurso era: cada erro, cada reguada. Eu deixei de os dar para as deixar de apanhar. Quando fiz 6 anos e entrei, noutra escola, para a primeira classe, a professora que me recebeu surpreendia-se com a minha sabedoria, sem conseguir achar a razão do prodígio... Se fosse hoje, mandava-me para os psicólogos que acompanham os sobredotados. Por desconhecimento de causa, teria cometido um grave engano...
Havia aquele prédio da minha primeira escola e das minhas primeiras lojas. Numa tarde de Agosto, quando regressava a casa, fui arrebatado por um vento vermelho que crescia e crescia e crescia. O prédio ardia: ardeu até se negar. Eu já tinha visto incêndios, mas nenhum de tão perto e nenhum tão indomável. Os bombeiros levantavam-se sobre eles próprios, exaustos e enraivecidos. Corriam, mas era como se estivessem parados. Os moradores daquelas casas extintas, ao verem que ficavam apenas com a roupa que tinham no corpo, abriam a boca e gritavam para dentro deles e para dentro de nós um desespero mais puro e mais alto do que as chamas. Esses gritos, atirados à noite trémula e iluminada, ficaram para mim como a prova de que os homens se tornam deuses e animais no perigo. Deuses, porque querem morrer e não conseguem. Animais, porque os seus uivos são selvagens, contínuos e sem vergonha.
As horas sucediam-se como reis de uma dinastia louca, e o fogo continuava a devorar tudo, atravessando o nosso pânico e quase chegando à nossa casa. Passei a noite a olhar, assombrado, o oscilar daquela treva de luz, o correr daquela caligrafia incandescente, alta e destruidora. Nas noites seguintes, era como se não conseguisse fechar os olhos, pois sonhava que eles continuavam abertos. Ali fiquei, enquanto as cinzas não trouxeram a madrugada. Ali escutei, aterrado, aqueles gritos subumanos e nus. Durante muitos meses, era como se os meus ouvidos ainda estivessem num lugar diferente daquele onde eu estava.
O fogo atravessa, inextinguível, todas as mitologias e todas as literaturas. Gaston Bechelard, em A Psicanálise do Fogo, procura explicar essa persistência, falando de três complexos: o de Prometeu (que ele diz ser o Édipo da vida intelectual), de Empédocles e de Novalis. E diz que o fogo liga os dois grandes instintos, o de viver e o de morrer. Cada artista, cada cientista, cada escritor trabalha o fogo ou a sua ausência. É um pirómano em fuga: ladrão do fogo e seu adorador. Por isso, quando perguntaram a Jean Cocteau o que salvaria se a sua casa ardesse, ele respondeu: o fogo.
Assim vai o mundo...
domingo, agosto 03, 2008
O mundo da música..
Grande grupo português, de seu nome Old Jerusalem... Esta música é a Seasons...
Assim vai o mundo...
Assim vai o mundo...
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