Neste pequeno texto, José Cutileiro, um dos nossos melhores embaixadores de sempre, explica um pouco dos EUA e seus presidentes...
O homem mais poderoso do mundo
Os americanos são o único povo sobre a face da terra convencido de que o Criador lhes deu o direito à felicidade. Vem logo no começo da declaração de independência de 1776 e, até agora, ainda disso se não desimaginaram: sempre que críticos de fora ou raros pessimistas locais julgaram que, depois de bordoada grossa, dessa vez eles se iriam levantar do tapete com a crista murcha e sem sangue na guelra, os críticos enganaram-se. Neste nosso tempo, depois de sete anos e meio de George W. Bush, começados com fanfarra e acabados em desastre (duas guerras caras e impopulares, sem fim - quanto mais vitória... - à vista, uma crise financeira que ameaça meter num chinelo o grande "crash" de 1929, a imagem da América no resto do mundo anda pelas ruas da amargura) parecerem ter dado conta do gigante enquanto as economias de China e Índia crescem como bambus e a Rússia, a boiar num mar de petróleo e gás, arrota postas de pescada, de repente, da Califórnia a Massachusetts, de Montana ao Texas rompeu do fundo das almas um vendaval de esperança que fez das primárias presidenciais espectáculo de vigor moral e político de que me não lembro igual em regimes democráticos estabelecidos. (É mais costume encontrar fé inabalável na democracia em lugares onde esta não tenha chegado ainda: por exemplo, nas primeiras eleições gerais livres da África do Sul em 1994; no referendo da independência de Timor-Leste em 1999).
Atordoado por uma sucessão de infortúnios o país precisava de ressuscitar a crença na felicidade sobre a terra, de encontrar quem o fizesse sonhar outra vez. Acontece-lhe ciclicamente; no século passado em 1932, quando elegeu Franklin D. Roosevelt que morreu de morte natural já no quarto mandato e tinha derrotado Hitler; em 1960, quando elegeu John F. Kennedy que foi assassinado três anos depois mas deixou mito revigorante que ainda dura; e em 1980, quando elegeu Ronald Reagan que nos dois mandatos que a lei lhe consentia curou os Estados Unidos do traumatismo do Vietname e ganhou a Guerra Fria.
Agora, quando se julgava que Hillary Clinton iria ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, surgiu Barack Obama, de pai queniano e mãe nascida no Kansas, formado por Harvard e único senador negro em Washington. Uma vaga de 'obamomania' cobriu a América e o mundo.
Sondagens mostram que, se fosse o mundo a votar, Obama seria sem dúvida o próximo inquilino da Casa Branca mas quem vota são os americanos, que estão muito mais divididos a esse respeito do que os europeus. Os sonhos da América profunda nem sempre parecem coincidir com os altos ideais e a visão do senador cosmopolita de Illinois.
Se Barack Obama ganhar a John McCain em Novembro é difícil prever que presidente dará. O homem é eloquente e bom político; numas coisas tem ideias excelentes, noutras más, noutras ainda não parece ter nenhumas. Com sorte poderá sair-nos na rifa um novo Ronald Reagan; com azar, uma espécie de Jimmy Carter com tese de doutoramento. (in Expresso)
Assim vai o mundo..
quinta-feira, agosto 07, 2008
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