sábado, agosto 30, 2008

O mundo português nos Jogos Olímpicos...

Decidi deixar passar uma semana para a poeira assentar e as cabeças esfriarem quanto à participação portuguesa em Pequim... Muitos artigos (Daniel Oliveira, Henrique Raposo,António Pinto Leite, etc) mostraram o bom e sobretudo o mau!

Falemos já das declarações. Foram infelizes! Fosse como desculpa, como acusação, como auto-complacência. E nem Vicente Moura escapou. Um dirigente tão experiente já deveria conhecer a psique do público e dos atletas. Confiar na delegação, aumentar a auto-estima e apreço pela representação portuguesa só teria efeitos positivos; mas a promessa de resultados e medalhas só pode resultar em pressão e desilusão. E as justificações dos primeiros atletas que ficaram áquem das expectativas resultaram numa bola de neve de afirmações infelizes que nada dignificam quem as proferiu. O grande bode expiatório acabou por ser Marco Fortes quando disse "De manhã, só é bom na caminha, pelo menos comigo!". Lida assim só podemos pensar que é uma brincadeira. Mas por trás deste comentário jocoso está uma inadaptação clara ao fuso horário de Pequim e às implicações no treino desportivo. Podemos dizer que então fosse mais cedo! Mas Marco Fortes não tinha condições nem dinheiro para tal. Falarei mais à frente das bolsas, mas a título de exemplo ele recebeu do COP uma bolsa de 500 euros durante seis meses. Não é com certeza o maior gastador de dinheiro contribuinte. E podemos dar tanto mais razão à queixa do fuso horário de Marco, porque ele ficou a dois metros do seu próprio recorde. Ora isto só se explica com dificuldade física, não tanto psicológica. Já por exemplo a Naíde foi mais uma questão psicológica. OS dois primeiros saltos foram uma elegia ao desempenho físico, mas infelizmente nulos. O terceiro e último salto foi uma luta contra o medo de falhar. Por isso aqueles passinhos de indecisão perante uma eminente eliminação não permitiram que Naide passasse à final. Ela representa um país, mas acima de tudo representa uma vontade individual. Muitas horas de treino, muito sacrifício! Daí as palavras dela: "Estou parva, fiquei sem reacção. Tantos anos de trabalho, nem consigo chorar!". É o choque misturado com sinceridade. Nem o desgosto consegue passar a apatia. Uma das nossas maiores esperanças foi uma das maiores deilusões. Mas tal como Naide não conseguimos chorar...

Os resultados não foram os esperados. As expectativas eram 4 a 5 medalhas e 60 pontos. Acabamos nas duas medalhas e 28 pontos. Muito abaixo dos 44 de Atenas. Talvez a expectativa tivesse muito alta. Os numeros nunca deviam ter sido revelados. Pelos menos não publicamente. Devia ter havido uma responsabilização dos atletas mas não uma pressão mediática. Todos sabiamos que Telma Monteiro, João Neto, Francis Obikwelu, Naide Gomes, Gustavo Lima, João Costa, Vanessa Fernandes e Nélson Évora eram medalháveis. Dois deles conseguiram. Gustavo ficou em quarto. Houve muitas desilusões por esse mundo fora. Desde logo o favorito chinês Liu Xiang, a maior vedeta no seu país e que ficou de fora da final por causa de uma lesão. Aconteceu a todos. Não foi fado português. É o fado do desporto.

Falemos das bolsas. Os atletas foram divididos por níveis. Entre qualificados e medalháveis, há 4 níveis que dão direito a bolsas dos 500 aos 1250 euros por mês. Podemos dizer que é uma soma elevada, mas pensemos que são os atletas que se dedicam inteiramente a treinar. São os medalháveis. São oito ao todo, e em que dois ganharam medalhas. Pode-se dizer que nem é uma marca má. Aliás, até podemos pensar que os resultados gerais não são maus. Mas depois olho para outros países e tenho de comparar. A Jamaica tem cerca de 2 milhões de habitantes com um PIB per capita abaixo do nosso. E conseguiu 11 medalhas (6 de ouro), ou seja, no 13º lugar do quadro. O que dizer? Que são geneticamente mais fortes? Talvez. Que tem melhores condições de treino? Talvez. Talvez o espírito, talvez a vontade... Talvez muitas coisas...

O futuro do nosso olimpismo, passa pelo futuro do nosso desporto. Vicente Moura, depois de ter reconsiderado manter-se à frente do COI português, pediu mais verba para Londres 2012. Até posso compreender que seja necessário mais fundos, mas também acho bem que se exija profissionalismo e resultados aos atletas.

Uma última nota para RTP! Uma enorme cobertura com imensas horas de Jogos, mas um pouco perdida em termos de horários e modalidades. A cobertura do Eurosport foi mais organizada. Os comentários ficaram muito a desejar, sobretudo nas modalidades colectivas. Ao menos foram belas madrugadas de desporto...

Assim vai o mundo....

2 comentários:

Menina Marota disse...

Excelente texto. Gostei de ler!
Um abraço ;)

Francisco del Mundo disse...

menina, já não a via ha muito...:D
Beijo