quinta-feira, março 31, 2005

Eutanásia e outras decisões...

Por estes dias a minha mãe foi operada. Teve de fazer uma pequena cirurgia para retirar uma amostra de um nódulo na tiróide para ser analisada. Correu tudo bem e já está em casa a recuperar. Aliás, sobre perdas de entes queridos falarei noutro dia...

Relembrei este acontecimento porque na cama ao lado da da minha mãe, estava uma idosa que acabou por falecer. Nos dois dias que visitei a minha mãe, vi-a num estado de saúde já muito deteriorado e a ser consumido muito rapidamente. Impressionou-me e ao falar com a minha mãe, soube que a senhora falava durante a noite e ninguém conseguia dormir... Na sua última noite, já que na seguinte faleceu, acordou com a boca cheia de sangue e foi a minha mãe a chamar as enfermeiras... Ao sair do hospital, conversei com o meu pai sobre a eutanásia! Dei por mim a pensar várias vezes neste assunto. Pensei nos prós e contras e nas diferentes perspectivas do assunto. Primeiro gostava de exprimir o meu desacordo com outra situação: quando uma pessoa tem alguma doença grave ou terminal, os médicos informam primeiro a família. Sempre me insurgi contra isso! Gosto de saber com o que posso contar e faz-me impressão pensar que poderá alguém saber coisas sobre a minha vida ou saúde e eu não. Para mim, deveria ser ao contrário. Eu deveria saber e se quisesse contaria aos meus familiares. Mas não me quero desviar...
A eutanásia voltou à ordem do dia por causa de muitos factores, entre os quais dois filmes que ainda não vi (mas verei) mas que tem sido aclamados pela crítica: "Mar adentro" de Alejandro Amenábar e "Million Dollar Baby" de Clint Easatwood! Até que ponto se deve esperar que a natureza ou Deus (para quem é crente) acabe com o sofrimentode alguém? Existem casos em que a situação se torna tão insustentavel que a própria pessoa ou a família (em pacientes vegetativos ou comatosos) pedem uma solução menos penosa ou dolorosa... Será que não haverá direito a um fim assistido? Sinto-me inclinado a dizer que sim, mas depois há outros aspectos. Vem-me logo à cabeça a questão de quem faria a operação final? No caso do personagem verídico do filme espanhol, e com certeza maravilhosamente interpretada por Javier Bardem, é o próprio Ramón Sampedro que executa o acto final... Mas isso levanta todo o estigma do suicídio! Até porque as pessoas mais qualificadas para o fazerem, os médicos, prestam um juramento para salvar vidas e não para as tirar. É claro que não posso é concordar com este último caso nos EUA em que é uma decisão do Supremo Tribunal que impede uam mulher de ser alimentada artificialmente, fazendo com que a vida se vá esvaíndo perante o olhar impotente da família!

Ora bem, o que posso concluir? Concluo que cada caso é um caso e que só passando pela situação... Digo isto porque há tempos houve uma polémica quando Francisco Louça disse a Paulo Portas, creio que a propósito do aborto, que ele não sabia o que era gerar uma vida humana. Se a afirmação teve segundas intenções, é óbvio que a condeno! Não gosto de política insultuosa. Porém, tenho de defender a ideia que os nossos pontos de vista devem, sempre que possível, ser alicerçados em experiências próprias. E tão pouco gosto de hipocrisias, em que algumas pessoas condenam o aborto e depois façam viagens a Espanha, oficialmente turísticas mas verdadeiramente abortivas...
Mas sobre o aborto e valores morais falarei noutra altura!

Assim vai o mundo...

PS- Já depois de redigido o artigo, soube que Terri Schiavo, a americana que referi no artigo, morreu por falta de alimento... Que morte vil e degradante, quando tantas pessoas morrem pela mesma causa em circunstâncias tão diferentes!

3 comentários:

Anónimo disse...

Eutanásia... SIM?...NÃO?....
Não é uma decisão facil nem muitas vezes a mais acertada (quer para o sim, quer para o não). Como questionavas, e quem o praticará? Os medicos? A familia? E terá ela poder para isso?.... É uma questão que ainda dará muito para discutir, é uma decisão complicada. Para mim, sim à Eutanásia! Neste momento muitos de voces podem estar a perguntar:
"falas muito bem quando estás a falar da vida de outras pessoas... gostava de te ouvir falar assim de alguém que te fosse querido..." Sim, falaria da mesma maneira, provávelmente como estaria a falar de alguém querido para mim, diria que prefiro que a vida dessa pessoa acabe do que vê-la num estado de sofrimento que provoque ainda mais sofrimento, porque nada é mais doloroso que ver alguem que amas sofrer. É penoso perder alguém que se ama, mas é ainda mais penoso ver sofrer essa mesma pessoa. Mas respeito toda e qualquer opinião diferente da minha.

Saudações...

Anónimo disse...

Para começar desejo as melhoras à tua mãe!!!
A eutanásia…outro grande tema!!! Começo por dizer, que não deveria falar do que não sei. Por não estar devidamente informada, e por outros motivos, ainda não tenho uma opinião sobre o assunto.
Mas faz-me confusão, alguém preferir morrer e mais confusão ainda, a família decidir o melhor para um doente em estado vegetativo ou de coma, até porque, embora raramente aconteça, há sempre quem acorde de um estado de coma que tenha durado anos.
Eu prefiro acreditar que uma boa resposta passaria por apostar nos cuidados paliativos. Por outro lado, e aqui está o problema, se eu estivesse numa situação destas, gostaria de poder decidir sobre o fim da minha vida.
Penso que em relação à eutanásia, só poderei decidir sobre que opinião tomar, quando conhecer a discussão filosófica sobre a dignidade e a felicidade humana e o direito ou não à vida e à morte.

carpe vitam! disse...

Comecei a perceber que algo de profundamente errado se passa numa sociedade em que é legal uma pessoa suicidar-se lentamente (fumando, trabalhando em condições degradantes, descurando a sua saúde) mas não é bem aceite terminar rapidamente e de forma indolor com a vida. o caso dos doentes terminais é flagrante. os cuidados paliativos nunca me convenceram...