quarta-feira, dezembro 12, 2007

O mundo dos transportes...

Peço desculpa, mas tenho de concordar com o Eduardo Pitta...

Lisboa é uma cidade bem servida de táxis. Parece que só no concelho existem para cima de cinco mil. Se juntarmos os concelhos da Amadora, Cascais, Loures, Odivelas, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira (a parte da Grande Lisboa que fica do lado de cá do rio), esse número multiplica por três. Isto para dizer que táxis é coisa que, felizmente, não falta. Mas as associações do sector ainda não perceberam que o táxi é um meio de transporte público. E, como tal, tem de cumprir regras básicas, tais como asseio, acessibilidade e segurança. Um táxi não pode cheirar mal, ou ter o banco molhado porque um cliente negligente pôs o guarda-chuva em cima dele (se isso acontecer, cabe ao motorista, findo o serviço, limpar o banco). O serviço de táxis não pode ser um vazadouro de reformados, com problemas de vista e audição, para não falar de outros mais graves. Os táxis não podem ser entregues, aos fins-de-semana, a condutores de domingo. Um motorista de táxi tem a obrigação, repito, a obrigação, de conhecer o concelho onde está registado. Perguntar com arrogância «Onde é que isso fica...?» é inadmissível. Não é o cliente que tem de saber. É o motorista! Não há exames de acesso à profissão? Conheço pelo menos dois guias urbanos de Lisboa, de boa qualidade e consulta fácil (um mapa por página), um dos quais devia ser obrigatório em cada carro. Alguns têm, eu sei. Isto para não falar do GPS, que também devia ser obrigatório, e já se vai vendo nos carros guiados por profissionais mais jovens. Como transporte público, um táxi tem de garantir boa acessibilidade. A maioria não garante. Grande parte dos motoristas entende que o seu conforto sobreleva o do cliente, não tendo pejo em encostar o banco da frente ao de trás. Já me aconteceu ter de recusar um serviço por não haver espaço para quatro pernas. Por exemplo, meter dentro de um táxi um octogenário com pouca agilidade implica uma logística nem sempre compatível com o carro contratado. Não há modelos adequados a transporte público? Claro que há. Entre todos, sirvam de exemplo os de Londres, onde cabem pessoas e bagagens e ninguém faz contorcionismo. Em Lisboa, um passageiro com destino ao aeroporto confronta-se muitas vezes com a mala do carro (em regra pequena) cheia de pertences do motorista. Duplo abuso, porque o transporte de bagagem é pago. Estas coisas não podem ficar ao arbítrio do motorista ou do patrão dele. O vidro separador que alguns adoptaram é outro óbice. Hoje em dia, os carros têm menos espaço disponível do que tinham há quarenta anos. Nos actuais modelos espremidos, o espaço útil que sobra é quase nenhum. Tudo piora em carros com separador de vidro, onde qualquer passageiro com 1,70m tem de viajar com os joelhos ao pé do queixo (e os de 1,80m simplesmente não cabem). As associações de classe querem saber destes detalhes? Não. As associações de classe acham que estão a fazer um favor à população. Nessa medida, deixam os associados em roda livre. A única coisa que vai funcionando com alguma eficácia é o serviço de rádio-táxis, através do qual sempre podemos dar indicações precisas: «Quero carro sem separador de vidro» / «É para o aeroporto, somos três, a mala tem de ser grande» / «Vou jantar a Linda-a-Velha, tenho a morada mas não sei como lá chegar, mande alguém que conheça a zona», e por aí fora. Isto tem consequências, do tipo, digamos, big brother... É que essas centrais ficam com os nossos números e moradas em memória. Quando falo de casa, não preciso de dizer para onde (as meninas sabem). Se falo de fora de casa, pelo telemóvel, perguntam se é para... (e citam o último pedido). Mas, no reino dos táxis, ainda é o que vai funcionando melhor. Tudo isto seria desnecessário se os taxistas compreendessem de uma vez por todas que os táxis fazem parte da rede de transportes públicos. Por configurarem situações de natureza legal, deixo de lado aspectos como a condução sob o efeito de álcool ou pills, a porta do lado esquerdo trancada (só abre por fora), carros a tresandar a fumo, altifalantes ligados para lá de limites razoáveis, portas sem manípulo de janela ou com o dispositivo automático bloqueado para evitar que o cliente abra o vidro, etc. Há excepções? Há. Tenho encontrado motoristas competentes, educados, prestáveis e afáveis. Tenho viajado em carros limpos e confortáveis. Infelizmente, em número residual.

Assim vai o mundo...

1 comentário:

Anónimo disse...

tu é fresco p/ caralho