quarta-feira, novembro 09, 2005

A bomba-relógio francesa...

Mais tarde ou mais cedo, a bomba teria que rebentar... A França foi durante anos um ponto de chegada de milhares de imigrantes. De várias nacionalidades, raças, ou credos, os imigrantes foram chegando e construindo um mosaico multi-étnico. Lembro-me quando a França foi campeã do mundo de futebol, foi exaltado o facto de a quase totalidade dos jogadores serem filhos de imigrantes de vários locais (Tunísia, Azerbeijão, Martinica, Marrocos,Portugal,etc), e era dado como exemplo de uma perfeita integração de imigrantes de 2º geração. Pois bem, o problemas é que nem todos são jogadores de futebol. E os jovens que não encontram trabalho, que se refugiam na droga, no crime, tem a grande dificuldade de não se sentirem franceses mas também não se sentirem oriundos da terra de seus pais. É a pior forma de ser apátrida, já que não é ter o mundo como casa, mas não ter casa em terra alguma...
Dois jovens menores fugiam da polícia, não por terem roubado alguma coisa como disse e depois desmentiu a polícia, mas de um controlo. Eles não cadastro e acabaram encurralados numa caixa de alta tensão, morrendo electrocutados. Iniciou-se aí a revolta, piorada com o lançamento de uma bomba de gás lacrimogénio para dentro de uma mesquita cheia de infiéis. Tudo este processo foi conduzido como um elefante em loja de porcelana pelo ministro do Interior Sarkozy (apontado como candidato a presidente da República), que foi chamando "escumalha" a estes franceses de segunda, sendo secundado por Chirac que afirmou que os franceses estão fartos dessa gente. Não me parecem bons princípios de diplomacia e igualdade, e o mesmo terá achado o Ministro da Igualdade francês (descendente de imigrantes), que se demarcou destas afirmações. Como resultado temos caos em todas as grandes cidades francesas ( e a alastrar-se aos países vizinhos) e uma terrível ineficácia em resolver o assunto. Não vejo o recolher obrigatório como solução, e aliás, não vejo solução nenhuma, porque quem semeia ventos, colhe sempre tempestades...

Assim vai o mundo...

6 comentários:

Anónimo disse...

Com o devido respeito pelos que não o são, os franseses em geral são xenófobos...

Francisco del Mundo disse...

Comentando o coment feito anteriormente, há de facto um sentimento muito nacionalista por parte dos franceses. Não quero chamar de xenofobia, mas concordo que realmente não uma cultura tão tolerante como por exemplo na vizinha Holanda...

Anónimo disse...

Por acaso os portugueses são tolerantes e acolhedores? Não me parece! Acho os portugueses bem mais racistas e xenófobos que os franceses!
E acho também muito fácil para quem está de fora criticar e falar de uma realidade que desconhece. Só quem passa pelas situações, como ter o carro incendiado à porta de casa, ser ameaçado por um miudo de 12 anos com uma faca na mão, ver um colega ser espancado até à morte porque olhou "de lado" para um rapaz... esta realidade não é nova mas sim diária para quem vive nomeadamente nos arredores de Paris.
Eu acho que o problema não foi falta de tolerância, foi uma resposta inadequada à chegada de tantos imigrantes, foi juntar a pobreza com mais pobreza e desta forma criar "ghettos", com milhares de prédios de habitação social. Acabaram por criar o seu próprio mundo com as suas próprias regras. Não é um problema de identidade, nacionalidade, religião ou cultura, porque os franceses ou até lusodescendentes que vivem nesses bairros também incendeiam carros com os amiguinhos magrebinos e africanos!!!O problema é que os exemplos que os miudos têm são os piores! O pai deles que sai todos os dias cedissimo de manha para recolher o lixo, ou a mãe que faz limpezas noite e dia, ganham uma miseria (mesmo assim muito mais que nós...) enquanto que o amigo / vizinho que é traficante ganha pequenas fortunas todos os dias, e tem as sapatilhas mais caras que podem existir...etc... E quando se vive de forma ilicita, a polícia nunca é bem vinda... e o pior é que os poderes públicos não dão os meios necessários para a polícia manter a ordem e defender as pessoas! Há bairros onde a polícia já nem entra!!!! E as vítimas são sempre as mesmas! E quantos polícias são assassinados, ameaçados e se suicidam em França?
E o pior é que estamos a repetir os mesmos erros em Portugal!

Francisco del Mundo disse...

Concordo com tudo! Eu não usei o termo xenofobia para os franceses, mas também não acho que os portugueses o sejam... Ou melhor, até podemos ser mas na medida em que todos os povos o são! Mas posso referir casos em que os franceses se acham superiores, e mesmo neste caso o termo "escumalha" não me parece acertado para definir os imigrantes...
Quanto a Portugal, é verdade que estamos a cometer erros, mas pode ser que o nosso brando-costumismo não nos faça enfrentar situações como a francesa...

Anónimo disse...

Pois, mas ele não se referiu aos imigrantes. Ele chamou "escumalha" a esses tais grupos de delinquentes. Ainda ontem em entrevista à televisão pública francesa, ele voltou a dizé-lo. E como não concordar! Um homem de 65 anos acabou por morrer porque foi espancado quando tentava apagar um incendio, um bebé de 18 meses ficou gravemente ferido, quando um autocarro foi apedrejado... pessoas que cometem estes actos, são efectivamente "escumalha"!

Francisco del Mundo disse...

Claro que não concordo com os actos e sou capaz de dizer que esses delinquentes não são normais e merecem a cadeia, mas quando o ouvi a primeira vez a linha limite entre imigrantes e delinquentes não foi muito bem traçada por ele... Mas de toda a forma, com certeza que nada justifica tais actos...