sábado, fevereiro 18, 2006

Que falta de...

A palavra que falta no título é cultura... Podia também ser educação... Ou ainda civismo...
Como disse fui ver ontem uma peça de teatro, aqui mesmo na minha cidade! Não me advogo como uma pessoa muito culta ou cheio de etiqueta, mas há certos tiques e vícios que me irritam em Portugal... Desde logo o chegar atrasado! A peça já tinha alguns 5/10 minutos quando chegaram algumas pessoas. Obviamente com a plateia escura, houve burburinho até encontrarem o lugar. Ora isto desconcentra o actor (se bem que eles procurem abstrair-se disso) e os próprios espectadores, que não conseguem por vezes ouvir perfeitamente o que os intérpretes dizem... Daí até à extraordinária dificuldade qque os portugueses têem de se lembrar de desligar o telemóvel, vai um pequeno passo... É sempre "Ai, esqueci-me!", como se houvessem muitas coisas a lembrar antes de entrar numa peça de teatro! E depois, azar dos azares, nunca é um toque discreto mas uma porcaria de uma música pop ou sirene da polícia...
Por outro lado, faz-me um pouco de confusão que as pessoas vão completamente às escuras para a peça! Por exemplo, a peça de ontem, "Orgia", tem cenas de nús, feminina e masculina, e logo um burburinho e risos quando a actriz ou actor se expõe... Mesmo no meio da mais dramática cena, se alguém está nu, logo o riso irrompe pela sala! Pergunto-me como se sentiriam se o companheiro ou companheira se rissem quando a pessoa se despisse no seu quarto. Calculo que ficariam constrangidas, ou mesmo tristes... Pois bem, ali ainda é pior, pois o actor está a tentar comunicar algo e logo ouve risos apenas porque o corpo está despido... Será que ainda, neste tempo em que em todos os filmes há cenas de sexo, o corpo humano representa um tema tão escondido e proibido que faça rir?
Ou pior, que quando o actor se despiu, eu tenho ouvido na fila atrás de mim, alguém dizer "Oh, valha-me Deus, o que é isto?"! Apeteceu-me virar para trás e dizer: "Isto, minha senhora, é uma peça de teatro de Pier Paolo Pasolini, escritor italiano conhecido por ser um provocador, um atiçador de emoções, e que nesta obra decidiu expôr o corpo humano, os fetichismos, as loucuras do ser humano!"... Mas isso, num mundo perfeito, ela já deveria saber antes de ver a peça...
Como gostava de que as pessoas tivessem a humildade de se aculturar, educar, civilizacionar, antes de se chocar, criticar, incompreender uma peça de teatro...

Assim vai o (nosso) mundo...

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