domingo, outubro 16, 2005

A geração rasca...

Recebi hoje um mail que quase me comoveu! Não concordo muito com a idade pois não estou bem situado nos 30, mas concordo que a nova geração é diferente da minha... Leiam e relembrem certas coisas...

"Em conversa com o irmão mais novo de um amigo, cheguei a uma triste conclusão. A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem? " , perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus.. Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: " Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além... " era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super-Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual ... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos. Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção. Confesso, senti-me velho ...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft. Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e a fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa a fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo "Moleculum infanticus" , que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho (muitas vezes chamado de "terno" ) nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse. Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso.Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração " rasca "... Nós éramos mais a geração " à rasca " , isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca a ver se a namorada estava grávida, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos. Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de prenda de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o tóto de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada. Hoje, se um puto é normal, ou seja, não tem óculos, nem aparelho nos dentes, as miúdas andam atrás dele, anda de bicicleta e fica na rua até às dez da noite, os outros são proibidos de se dar com ele."

Assim vai o mundo...

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu não mereço morrer, não tenho culpa do verão azul não chegar aos açores, nem o tom sawyer, nem os outros todos da lista!!! :) Mas tenho 22 anos e subi às arvores, fiz rampas de bicicleta, andei de skate feito pelos meus amigos, chegava a casa toda esfolada nos joelhos e pronta para ir para a banheira tanta era a terra que tinha em cima :) devo estar mesmo quase nos 30 ...

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

:) estou a rir-me do que diz a Carina. "eu não mereço morrer". ela tem razão :)
Este texto pode não se poder generalizar mas toca muitos pontos de forma certeira. Eu tenho mais de 30 e sinto esta enorme diferença de vivências.

Os referenciais são outros e ainda bem, não convém cairmos no erro de confundirmos a nossa história pessoal (colectiva, se pensarmos em gerações) com o que de mais rico a humanidade produziu. Mas é claro que há lacunas graves e que esta reality-shows society tem que rever os seus modelos.

Depois, os putos de hoje estão mais "protegidos" - porque o mundo nos parece (e é) mais "perigoso" (mother speacking) e, é claro, os níveis de consumismo são muito mais elevados. Outro dia voltei à Universidade que frequentei há já quase 20 anos: por todo o lado havia automóveis. No meu tempo, eram pouquissimos a ter carro, com sorte um conseguia convencer o pai a emprestar-lho para uma noite; hoje em dia, todos têm um carrinho!

Eu andei com a mesma pasta durante toda a primeira classe, as minhas filhas que andam no infantário já podem escolher entre várias mochilas... A questão é que somos nós, essa old generation, agora "reprodutora", que permite ou desiste de combater as novas regras.

Estamos todos mais ricos? Não, acontece que o consumismo se instalou e ninguém escapa a essa modo de vida. Estão os putos de hoje mais desinformados? Não sei, eu diria que se especializaram... ;)

blablabla, isto dava para longas conversas

Francisco del Mundo disse...

Linda Carina e talentosa Diva, temos então de nos juntarmos e conversar sobre os belos tempos das nossas diferentes infâncias...:)

Francisco del Mundo disse...

Luna, devo dizer que as tuas filhas são então belas excepções neste exagero real do meu post... Também me divirto com a Playstation mas acho que a base deve ser a rua e actividades sociais...:)
Beijos

carpe vitam! disse...

dizem que nas pirâmides está gravado um texto que dá conta da "perdição da juventude". é assim desde o início dos tempos, os velhos acham sempre que o mundo não tem solução nas novas gerações. esse texto é mais um exemplo, um bocado à velho do Restelo e extremamente generalizador. não é que eu tenha grande fé nas gerações mais novas, mas uma coisa tenho certeza, eles têm uma forma diferente de ver o mundo que nós vamos sempre achar que é pior que a nossa.