segunda-feira, junho 11, 2007

O Último dos Românticos

A.S.- Começo hoje a publicação das minhas estórias antigas...

DIANA (1997 ou 1998)
Acordo, sobressaltado, coberto em suor. Olho por momentos o relógio. Vinte minutos para a primeira aula. Levanto-me vagarosamente, tentando não pensar no pesadelo que me atormenta no último mês. Desde o maldito acidente! Arrasto-me até à janela, levanto o estore e espreito lá para fora. Uma típica manhã de Inverno. Não chove mas o céu cinzento convida a ficar em casa. Apenas um dia como outro qualquer. Caminho até à casa de banho, onde tomo um duche rápido. Olho-me ao espelho e pergunto-me se valerá a pena cortar a barba. Acho que não! Talvez se o aspecto exterior for mau, o desconforto interior se atenue. Volto à janela e fumo um cigarro. Sem nada no estômago, o cigarro cai-me mal e o meu humor piora.
Começo a andar devagar, alienado. Chegarei tarde mas nem isso me importa. Quando dobro uma das esquinas, não olho em frente e choco com alguém. Papéis e cadernos espalham-se no chão.
- Só me faltava isto para continuar este dia perfeito! - resmungo, enquanto vou apanhando papéis.
- Tenho a sensação que o mau humor começou com uma má noite! Ou noites… - responde-me uma voz feminina.
Levanto os olhos para responder mas fico fixado. À minha frente está uma mulher com vinte e muitos anos, cabelos escuros e olhos esverdeados. Tinha um aspecto prático apesar das roupas formais…
- Bem, como estou cheia de pressa, fazemos o seguinte: tem aqui o meu cartão, se ficar com algum documento meu, agradeço que o envie. - disse, levantando-se e afastando-se sem dar hipótese de resposta.
Apanho o resto dos papéis e coro para a Universidade. É claro que chego atrasado.
Só na hora do almoço (ou seja, uma sandes e um sumo), é que volto a pensar naquilo. Procuro nos meus cadernos e encontro documentos que não eram meus. Ela devia ser Relações Públicas de alguma empresa, porque alguns tinham nomes de pessoas e instituições. Olho várias vezes o cartão, lendo e relendo as informações. A morada era da periferia, de um daqueles bairros novos de vivendas. Decidi ir lá ao fim da tarde. Aquela figura fascinava-me.
(Continua)

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