segunda-feira, abril 11, 2005

Comparações....

Caimos muitas vezes no erro de nos compararmos a Espanha. Qual é a lógica de nos comparar a um país com muito mais população, mais área, mais recursos mas também com mais homicídios por habitante ou mais problemas de nacionalismos? O facto de sermos vizinhos não nos torna Estados iguais ou comparáveis. Somos diferentes e com uma importancia relativa diferente. Não devemos ser subservientes ou ter o desejo de ser mais uma região espanhola, mas aproveitar as sinergias e construir parcerias e projectos conjuntos..

Ontem prometi que hoje falaria de Cuba. Para falar em termos de área teria de falar de cor, mas sei que em termos populacionais Portugal e Cuba tem aproximadamente o mesmo número. E ainda assim que diferenças... São dois países com alguns recursos, que vivem em boa parte do turismo mas com dois regimes políticos opostos torna-os incomparáveis. É verdade que Cuba vive sob um regime nada democrático e sujeito à crítica internacional. O facto de existir uma ditadura com muitos anos, agravada por defender valores anti-capitalistas, impediu Cuba de crescer economicamente. Temos então um nível médio de vida muito baixo, e as favelas de Havana levam-nos a pensar no Brasil. Miúdos pobres pedem Coca-Cola, empregadas de limpeza pedem os champõs, a pobreza atinge o nosso coração mole e desabituado... Sentimos sempre um aperto, por estarmos a dispor de um local paradisiaco mas em que olhando à volta, a pobreza nos açambarca o olhar!
E, no entanto, três aspectos fazem o nosso país, e para ser justo tantos outros países do 1º mundo, invejar Cuba.
Primeiro, o sistema de saúde! Um país em que a maior parte dos cuidados de saúde sejam gratuitos e onde estão algumas das melhores clínicas do mundo (onde acorrem celebridades) deve ser elogiado. E nem preciso falar de Portugal, já que o sistema de saúde americano é, no mínimo, discutível e não protege os mais desfavorecidos. Afinal, os ricos poderão sempre procurar cuidados médicos, nem que seja em... Cuba!
Em segundo lugar, a educação. Nós olhamos com estranheza e incredulidade quando vemos imigrantes de Leste com cursos superiores a assentar tijolos (falarei disto mais alongadamente noutro dia), ora em Cuba é usual ver um engenheiro a servir à mesa. A taxa de alfabetização faz Portugal corar de vergonha. Até porque os cubanos lêem! Se os regimes comunistas tem muitos defeitos, o gosto e cultivo da educação é um pró enorme.
Por fim, algo mais leve e subjectivo: o ritmo! Não tem a alegria contagiante dos brasileiros ou a tranquilidade desconcertante dos caribenhos mas tem um ritmo inebriante. Se o nosso fado é triste e melancólico, a salsa é electrizante e chamativa. Passeando pelas ruas de Havana ou Santiago, encontramos com um charuto na boca, uma Omara Portuondo ou um Francisco Máximo Repilado Muñoz (vulgo, Compay Segundo). Com uma voz enrouquecida pelo velho rum e tabaco, surge um ritmo fresco e mexido como um bom Mojito...

Quem nunca foi a Cuba, que vá! Agora e depois de Castro para ver as diferenças. Eu arrisco uma previsão: agora Cuba é melhor para nós, depois será melhor para os cubanos...

Assim vai o mundo....

PS- Já agora, sabem quantos casos de SIDA existem em Cuba num universo de 11 milhões de pessoas? Menos de 5000, sendo que até 1998 só se conheciam perto de 2000 casos. Dá que pensar!

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